domingo, 4 de julho de 2010

18 de Junho - Grupo Focal

Nao atentei para escrever neste dia, usarei as anotações das pessoas e faço um post, logo em seguida, com as coisas que mais me marcaram

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PESQUISA SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA - PPSUS
1º Grupo Focal – Dia 18.06.2010

Rodada de apresentações:
Equipe pesquisadores: Simone, André, Guto, Jaqueline, Pedr8o, Bruna.
ACSs - Tempo de trabalho
01 – 8 anos
02 – 14 anos
03 – 6 anos
04 – 9 anos
05 – 8 anos
06 – 4 anos
07 – 2 anos
08 – 8 anos
09 - 8 anos
10 – 5 anos
11 – 8 anos
12 – 8 anos
13 – 4,5 anos
14 – 8 anos
15
16
17
18
19

OS números substituem os nomes e a informação em seguida, refere-se ao tempo de trabalho como ACS.

Apresentação da Pesquisa: Breve Histórico a partir dos casadinhos + Pró-Saúde, Objetivo e programação da atual pesquisa, TCLE, gravação.
Todos consentem, contam que foram convidados para “curso” e , ao afirmarem suas disposições de participarem já entram no assunto mesmo antes de iniciarmos as apresentações.

- Precisamos mesmo falar disso, pq toda hora tão nos pedindo ajuda e a gente não sabe o que fazer.
- Com essa coisa do crack, tem sempre alguém dizendo que quer tratamento e a gente fica sem saber o que dizer, só enrolando...

Principais Tópicos Abordados:
à uso de drogas: crack
Associação mais imediata com saúde mental no trabalho deles vem é com uso de drogas e
álcool.Percebem uma mudança na demanda de trabalho com ACSs: antigamente, pedreiros’ não procuravam ajuda, agora vêm direto prá gente dizem que querem largar a pedra, que sabem que está fazendo mal, mas ficamos de mãos atadas. Sabemos que mesmo que se consiga vaga em fazenda ou hospital – que já é difícil – daqui a pouco eles tão na área de novo vendendo até a mãe prá comprar pedra.
Contam vários episódios relacionados a crackeiros que chegam até eles pedindo ajuda.
Menina de 16 anos grávida do 2º filho que anda com nenê dependurado fumando; Guri que ficou 22 dias pelo convênio numa fazenda e 2 dias depois que tinha voltado já
tava fissurado...

- agentes se sentem pressionados(?), por viverem na comunidade. [não lembro como
apareceu da 1ª vez, mas a idéia que fiquei não foi de pressão por morarem ali, mas de
pressão por não terem como encaminhar o problema – tem que ver melhor como isso ficou
prá vcs]
Quando viciados chegam a pedir ajuda já estão no limite, já tem muita gente sofrendo e eles sabem que agora eles pedem, daqui a pouco já estão ali na boca arrumando mais pedra prá
- no PSF, diz que vai ajudar, mas quando os técnicos não podem fazer mais nada, os
agentes ficam “entre a cruz e a espada”, porque eles têm que ‘se dar’ com todo mundo,
ficando no meio dos conflitos. E ainda tem o medo, pq o traficante mora em frente, também não querem que a gente tire clientes deles...

-acham que há jeitos e jeitos de falar ‘não’ para os usuários: episódio da crackeira que chegou gritando no posto pedindo ajuda e enfermeira só disse que não tinha nada a fazer. A moça quebrou o vidro da UBS e durante reunião de equipe ameaçava cortar os pulsos em frente a todos se não fosse atendida. Vários ACSs comentam que pode até ser verdade que não tem prá onde encaminhar, mas ela deveria ter posto a moça prá dentro e ao menos tentado conversar e dizer alguma coisa, não só um ‘não’!

- há problemas nos encaminhamentos, as coisas ficam sem solução. Se cair na central
de marcação pode esquecer, achei uma ficha de referenciamento prá psiquiatra que está
esperando há 8 anos!

à Carência de Rede:
As parcerias inicias (quando da criação do PSF) são todas negativadas agora, a estrutura não é dada, e eles não têm pra onde encaminhar

- quem sofre é quem está à frente da coisa, que são eles

- ilusão de que ia resolver o problema da comunidade, quando entrou no PSF – que ia ter psicólogo pra todo mundo, estrutura. Falavam em rede, mas ele procurou e não encontrou a tal rede.

- demora no sistema : não existe parceria

- “na minha comunidade a metade é drogado, os outros são louco, e os outros tão ficando louco...”

- “De onde a gente tira estrutura pra lidar com esse povo? Porque a gente vive enganando o povo”. Somos enroladores: obrigados a dizer que as coisas vão se resolver, que vai conseguir marcar consulta que sabem que vão apodrecer na fila aguardando. Contam o caso de um PSF com referenciamento de 8 anos atrás, pra psiquiatria! Ninguém se espanta, ao contrário, emendam vários casos semelhantes!

- Os usuários dizem: “eu sei que tu tem boa intenção, mas tu não resolve nada”. Sentem-se desautorizados, as vezes ridicularizados na própria comunidade;
-no caso do uso de crack, toda a família sofre, e não tem suporte pra eles, e eles buscam suporte no PSF, e nos agentes mesmo

- “aqui vocês ouviram um caso de cada área, imagina o que tem por trás...”

- Excesso de demanda à Relações dos ACSs com suas UBSs e equipes

- quando identificam algum caso de alguém que quer se tratar (crack), levam até o posto, e até passa na frente de outros atendimentos, “pra segurar”, mesmo achando que não vá funcionar.

- Nosso papel é fazer a ponte entre a comunidade e o posto, mas a gente acaba fazendo
muito mais que isso, pq dentro da unidade eles sabem muito pouco do que é a vida mesmo das pessoas.

- Quando chegam no posto limpinhos, falando manso, tratando o filho de ‘meu amor’...
as vezes a gente até passa por mentiroso, porque não viram eles lá no meio deles, como a gente vê, no meio da sujeira, dando pau nas crianças

- Não é tão fácil dentro da unidade, isso desilude.

- Se a gente não conta pro médico como é que aquela pessoa vive de fato, como é que trata a família , eles não têm condição de entender o caso como é mesmo, como tratar aquela
pessoa que diz uma coisa pro médico e faz outra bem diferente em casa. Mas a gente sabe,
mora lá, ta vendo como eles são.
- O agente sabe coisas que não chegam lá dentro do posto. Eles dizem isso prá gente:
vou contar só prá ti, mas não diz lá pro médico que continuo fumando, bebendo. Tem
muita coisa que a gente sabe e se não levamos isso prá unidade não vão saber nunca.
- O brabo é que dentro mesmo da unidade ninguém valoriza nosso trabalho. Tudo bem que
a gente não é técnico, mas tem coisas que sabemos que outros não tem como saber, e isso
ninguém vê.
- Falei pro médico outro dia que a paciente não ia fazer o que ele dizia, contei tudo
que eu conhecia dela em casa e ele me disse: É, mas isso eu não tenho como saber!
- Caso das agentes que “foram pra cima”, brigaram com a equipe, pelos pacientes (? É o
caso do médico demitido?) para tirarem um médico que se recusava a fazer VD, juntamos
a comunidade e viemos aqui na gerente dizer o que ele fazia, que ninguém gostava do jetio
que atendia e ele foi trocado.
-“acham que a gente faz pouco e ganha muito”
- A comunidade é que nos reconhece – retorno imediato da comunidade: “a gente trabalha
24 horas, não 8 horas”
- “As vezes os pacientes contam pra gente coisas que não contam pro médico”
- pacientes não confiam em alguns médicos como nos agentes – eles vivem ali, têm vidas
parecidas, problemas parecidos
à Produção de Saúde/Doença e as Estratégias de Defesa dos ACSs
- agentes se expõem a muitas coisas, tuberculose, “fumam” pedra junto, “paredão” junto
–chegam na unidade, não são ouvidos, porque os técnicos não têm mais horário, ou porque não viram o paciente;
-“a gente (agente) também adoece, também passa por problemas”.
- Uma agente conta seu próprio caso em que foi deixada pelo marido, tinha um filho
drogado e outro que controlava ele, mas pouco depois este morreu num acidente de carro e o viciado largou as drogas. Ela contou muito com apoio da comunidade e sentou-se valorizada, pois no velório do filho todos foram, incluindo pessoas que ela não conhecia, mas que foram dar seu apoio por saberem do trabalho dela.
- “Quem cuida do cuidador?”
- “Agente cuida de agente”.
-“entra médico, sai médico, mas a gente se ajuda”
- “um é suporte do outro, é uma troca de experiências, eu me sinto realizada na profissão, mas também muito triste, porque não é reconhecido. A equipe acha que agentes não são nada, porque não são técnicos”
- “a gente acaba fazendo avaliações”
- não fazem diagnóstico, mas tem uma sensibilidade diferente, por conhecerem as famílias
- “ o que a gente não sabe, vai pra internet, vai pro livro, e estuda”.
- “tem muita coisa que não é nossa função, não temos capacitação pra isso”
-“a gente tem que saber o que que a gente tem que fazer pra ajudar”
- “ a melhor maneira da gente tratar eles é ouvir, porque eles querem falar, desabafar”.
Como isso aqui que a gente fez hoje, desabafou, falou dos nossos problemas. Na unidade não tem tempo prá isso.
-“prometer, já não prometo mais nada”
- “ a gente só não dá consulta mesmo”. E olhe lá! Já tem uns casos que dou uns conselhos que já sei como é que vão dizer no posto (risos)
- Caso da adolescente que queria anti-concepção prá transar com namorado e não
conseguiu consulta no PAM, mas agente roubou a cartela de pílulas e ensinou como
fazer (agente conta que a menina tinha a idade que ela própria tinha quando engravidou!)

à Demanda de capacitação
- querem capacitação sobre sintomas, o que o paciente apresenta quando entra num surto psicótico, ou de depressão leve, ou profunda. Como saber quando é só uma pessoa triste e quando pode ser um suicida?
- querem aprender a conhecer melhor o paciente

- Ética: às vezes, sabem coisas que nem outros familiares sabem, e que o paciente demora muito tempo ou nem conta na unidade.
- tem coisas que os agentes contam pra equipe, tem coisas que não contam.
- Agente também tem ética, não é só médico (rindo).
- mas como denunciar em alguns casos? Conhecem todos os envolvidos, moram no mesmo
lugar, ficam numa situação de vulnerabilidade

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