Hoje, na volta de casa, no meu mais tranquilo caminho de casa, a violência travestida fez seu trotoar na minha vidinha pacata. Assim, chato ver o quanto o medo é efetivo para nos paralisar. O cara, alguém da minha idade e com menos perspectivas, vestia um moleton e dizia estar armado. Se estava ou não, não sei. Não quis, dessa vez, discutir com ele. Fiquei surpreso quando ele me pediu minha jaqueta - gostava dela, sabe? Como assim levar uma jaqueta? Ao voltar pra casa sem ela, me dei conta de que esse era um objeto importante e que sendo assim, era algo passível de ser roubado. Como sair da lamúria pessoal e usar isto como algo maior? Pois é. Voltei pra casa dividido entre a lamúria pessoal de um pequeno burguês sem grana e o que podia produzir a partir disso.
Hoje á tarde falava do conceito de risco em saúde e das limitações dele para dar conta de um modo de cuidado onde a produção de vida fosse o objetivo. Penso que posso ir por aí. A princípio, eu não estava em uma situação de risco - sexta feira, andei por aquela mesma rua ás 03:30 da manhã; e mais, hoje eu queria muito andar para casa. Sendo assim, pensei em duas coisas, a primeira diz respeito a uma certa ineficiência da idéia de risco para programar as ações. Como assim? Olha, diante de um quadro de violência generalizada e mui democrática, em algum momento, ela vai acabar cruzando com você. Diante de condições sanitárias tão complicadas, hora ou outra, os indivíduos vão acabar adoecendo. As condições de adoecimento estão postas. Não há muito o que ser feito se não modificarmos estas. Os fatores de proteção são insuficientes para dar conta de tamanha vulnerabilidade.
A segunda é a dimensão de escolha frente ao risco, dado que há sempres outras necessidades que estão postas para além da de saúde ou, no meu caso, segurança. Eu queria caminhar, precisava caminhar. O cara que transa sem camisinha, a pessoa que usa droga, o diabético que come açucar, o hipertenso que exagera no sal e se fode na pressão, assim como eu, fizeram uma escolha. Toparam arriscar.
Acho que para promover autonomia é preciso dar dimensão das consequencias das ações. Informação? Sim. Só isso? Acho que não. É preciso, talvez, deixar que as pessoas sintam em seus corpos os efeitos das escolhas para dar a elas algo mais que uma informação técnica. Acho que isso ajudará a construir uma clínica que não trabalhe com corpos calados, quietos, silênciados frente ao imperativo técnico do risco.
Deu. Espero que isso tampone e minha vontade de falar disso e que isso me seja útil depois.
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