O semestre passado a discussão teórica do grupo de pesquisa era sobre cartografia e etnografia. O recorte que mais me interessou diz respeito a o diário de campo, usos, funções, conteúdos e outras coisas do gênero. Dentro do recorte do diário, tenho interesse na questão de como uma vivência da ordem do pessoal, do meu interesse pequeno, pode ser usada para pensar algo a mais. Não quero que o meu diário vire um espaço de catarse egóica. Não, isso acho que não é legal. Em meio a leituras bem improdutivas, achei umas passagens bem interessantes sobre esse assunto.
Manter a experiência em um nível individual, sem desdobrar suas consequências, é que seria limitar-se, qual Sartre, a um plano do subjetivo constituinte, atenuando virtuais poderes de perturbação. (...) A esse respeito Eribon ( 1996) ressalta as repetidas referências de Foucault a "experiências transformadoras ( p36), envolvendo relações com os outros, inserções na vida cultural, engajamentos políticos, confronto com normas institucionais etc. Rodrigues, 2009, p.22) In Foucault e a Psicologia, Guareschi e Huning.
Foucault, sempre Foucault. Acho que isso me deu boas ideias, pelo menos do que evitar e também abre um bom caminho para seguir pensando.
ps: Fazer explodir a verdade, ao tomá-la como prática de transforação da vida, da nossa vida e das outras vidas, é fazer da experiência de si uma obra de arte.
Cartografar é acompanhar movimentos e processos. Para tanto, usa o diário de campo como ferramenta capaz de ajudar o sujeito pesquisador a reler sua própria atividade - que aqui é pensado tanto como um campo específico, nos quais as atividades específicas da pesquisa se desenvolvem, quanto no campo da vida onde a vida e o conhecimento se processam.
terça-feira, 27 de julho de 2010
domingo, 25 de julho de 2010
Nietzsche é um bom companheiro - aula II
O sol insiste em não aparecer por estas bandas. Frente a chuvinha chata, volto eu para os estudos
Fragmentos Póstumos (Parágrafo 40(21)) (Cont.).
para que a unidade subjetiva, pensada segundo o modelo do corpo, possa existir é necessário que a consciência ignore determinadas perturbações dos demais órgãos que compõem essa mesma unidade complexa. Ou seja, para que a consciência possa manter e fazer funcionar adequadamente a sua função diretiva é preciso uma certa ignorância; com a completa transparência ou com a consciência absolutamente onisciente muito provavelmente não haveria possibilidade de que pudesse exercer adequadamente a sua função.
Comentário: O que acontece num indivíduo hipocondríaco.
Professor: É justamente isso. Ou seja, uma certa ignorância de base é condição fundamental do exercício otimizado da função superior da consciência.
Pergunta: Essa ignorância de base é não ter o controle total, é admitir que tem partes que escapam?
Comentário: E funciona automaticamente. O hipocondríaco quer ter o controle de tudo. Ele quer dar conta conscientemente de todas as funções dos órgãos ... se uma coisa escapa, ele quer saber porquê, pois ele não confia que o coração funciona automaticamente, que o intestino funciona...
Professor: Isso mesmo. Nós vamos ver isso de modo preciso em relação a esse texto que eu traduzi para vocês. Mas, percebam que isso daqui é uma coisa assim extraordinariamente diferente da posição iluminista tradicional, que justamente apostava o máximo possível na completa transparência da consciência.
Então, a ignorância seria constitutiva da consciência?
Professor: Seria constitutivo da função, de tal maneira que essa exigência de que a consciência pudesse tomar posse absoluta da unidade do sujeito, ou seja, de que a consciência pudesse funcionar como um núcleo absolutamente transparente da subjetividade, está sendo posta aqui em questão.
Comentário: Eu não sei se eu estou entendendo direito, mas eu fico pensando assim, as implicações políticas disso. São terríveis! Porque isso quer dizer que o povo tem necessidade de um ditador, dos grandes governantes, dos grandes políticos, e que as personalidades psicopáticas tem que existir porque.... tem a necessidade de uma certa ilusão, de sedução...
Professor: Olha, essa coisa que você está dizendo é tão apaixonante que eu não sei se daria para acompanhar você e dizer: tem de existir isso do ponto de vista do Nietzsche. Eu acho que o que Nietzsche diria antes seria: não que isso tem de existir, mas é compreensível que isso exista.
Comentário: Faz parte do mundo.
Professor: Exatamente. Ou seja, faz parte deste jogo aqui. É compreensível que exista e é compreensível que exista com tanta freqüência. E tem mais um outro ponto que ainda é mais terrível que isso, que é o seguinte: é ilusão pensar que você pode acabar com isso facilmente, ou seja, aqui há uma denúncia do otimismo de todas as formas de ilustração, ou seja, desta crença na onipotência da consciência
O eu do corpo não é o eu da gramática, não é o eu que simplesmente é a reprodução da função gramatical do sujeito na proposição. O eu do corpo, antes de ser dito, é realizado justamente nessa forma da unidade complexa e do múltiplo. Então, o corpo não é propriamente um eu que é dito, senão um eu que é produzido, feito.
O que ele está querendo dizer aqui é que esta unidade do eu que se funda na lógica e na gramática é unidade abstrata, é a unidade que decorre da simples função gramatical; enquanto que a unidade do eu que se realiza no corpo é uma unidade concreta, é uma unidade que se dá a partir de uma multiplicidade que é sempre mutável.
Aqui um eu é o eu do discurso; este eu que aparentemente é o núcleo da subjetividade, que deveria ser o autor desse processo, deveria ser o eu que pensa, mas que é muito mais espectador do que autor do processo todo. Aqui é uma outra maneira de problematizar a pequena razão e a grande razão, você lembrou muito bem disso, quer dizer, isso que eu chamo de eu não é este eu de que nós estávamos falando aqui, que é o corpo. Este eu que ocupa o núcleo da subjetividade, isto é, o eu da consciência, não é o autor do processo, ele é, no máximo, espectador do processo. Quem é, então, o eu? Quem faz isso. Aí a resposta é: eu não sei. E este eu não pode saber, justamente porque ele não é o autor.
Porque eu ignoro as causas corporais do desprazer, do mal-estar, e porque eu não posso prescindir de encontrar uma causa - isso ele está falando da nossa cultura na verdade - então, nós inventamos causas psicológicas e morais e acreditamos piamente nelas. Então, todo mundo tem o direito de encontrar a causa da reto-colite ulcerativa do próximo.
Fragmentos Póstumos (Parágrafo 40(21)) (Cont.).
para que a unidade subjetiva, pensada segundo o modelo do corpo, possa existir é necessário que a consciência ignore determinadas perturbações dos demais órgãos que compõem essa mesma unidade complexa. Ou seja, para que a consciência possa manter e fazer funcionar adequadamente a sua função diretiva é preciso uma certa ignorância; com a completa transparência ou com a consciência absolutamente onisciente muito provavelmente não haveria possibilidade de que pudesse exercer adequadamente a sua função.
Comentário: O que acontece num indivíduo hipocondríaco.
Professor: É justamente isso. Ou seja, uma certa ignorância de base é condição fundamental do exercício otimizado da função superior da consciência.
Pergunta: Essa ignorância de base é não ter o controle total, é admitir que tem partes que escapam?
Comentário: E funciona automaticamente. O hipocondríaco quer ter o controle de tudo. Ele quer dar conta conscientemente de todas as funções dos órgãos ... se uma coisa escapa, ele quer saber porquê, pois ele não confia que o coração funciona automaticamente, que o intestino funciona...
Professor: Isso mesmo. Nós vamos ver isso de modo preciso em relação a esse texto que eu traduzi para vocês. Mas, percebam que isso daqui é uma coisa assim extraordinariamente diferente da posição iluminista tradicional, que justamente apostava o máximo possível na completa transparência da consciência.
Então, a ignorância seria constitutiva da consciência?
Professor: Seria constitutivo da função, de tal maneira que essa exigência de que a consciência pudesse tomar posse absoluta da unidade do sujeito, ou seja, de que a consciência pudesse funcionar como um núcleo absolutamente transparente da subjetividade, está sendo posta aqui em questão.
Comentário: Eu não sei se eu estou entendendo direito, mas eu fico pensando assim, as implicações políticas disso. São terríveis! Porque isso quer dizer que o povo tem necessidade de um ditador, dos grandes governantes, dos grandes políticos, e que as personalidades psicopáticas tem que existir porque.... tem a necessidade de uma certa ilusão, de sedução...
Professor: Olha, essa coisa que você está dizendo é tão apaixonante que eu não sei se daria para acompanhar você e dizer: tem de existir isso do ponto de vista do Nietzsche. Eu acho que o que Nietzsche diria antes seria: não que isso tem de existir, mas é compreensível que isso exista.
Comentário: Faz parte do mundo.
Professor: Exatamente. Ou seja, faz parte deste jogo aqui. É compreensível que exista e é compreensível que exista com tanta freqüência. E tem mais um outro ponto que ainda é mais terrível que isso, que é o seguinte: é ilusão pensar que você pode acabar com isso facilmente, ou seja, aqui há uma denúncia do otimismo de todas as formas de ilustração, ou seja, desta crença na onipotência da consciência
O eu do corpo não é o eu da gramática, não é o eu que simplesmente é a reprodução da função gramatical do sujeito na proposição. O eu do corpo, antes de ser dito, é realizado justamente nessa forma da unidade complexa e do múltiplo. Então, o corpo não é propriamente um eu que é dito, senão um eu que é produzido, feito.
O que ele está querendo dizer aqui é que esta unidade do eu que se funda na lógica e na gramática é unidade abstrata, é a unidade que decorre da simples função gramatical; enquanto que a unidade do eu que se realiza no corpo é uma unidade concreta, é uma unidade que se dá a partir de uma multiplicidade que é sempre mutável.
Aqui um eu é o eu do discurso; este eu que aparentemente é o núcleo da subjetividade, que deveria ser o autor desse processo, deveria ser o eu que pensa, mas que é muito mais espectador do que autor do processo todo. Aqui é uma outra maneira de problematizar a pequena razão e a grande razão, você lembrou muito bem disso, quer dizer, isso que eu chamo de eu não é este eu de que nós estávamos falando aqui, que é o corpo. Este eu que ocupa o núcleo da subjetividade, isto é, o eu da consciência, não é o autor do processo, ele é, no máximo, espectador do processo. Quem é, então, o eu? Quem faz isso. Aí a resposta é: eu não sei. E este eu não pode saber, justamente porque ele não é o autor.
Porque eu ignoro as causas corporais do desprazer, do mal-estar, e porque eu não posso prescindir de encontrar uma causa - isso ele está falando da nossa cultura na verdade - então, nós inventamos causas psicológicas e morais e acreditamos piamente nelas. Então, todo mundo tem o direito de encontrar a causa da reto-colite ulcerativa do próximo.
"Sob tortura, quase todo mundo se confessa culpado; sob a dor, cuja causa física não se sabe, o torturado se questiona a si mesmo tão longa e inquisitorialmente até que ache culpado os outros ou a si mesmo: - como fez, por exemplo, o puritano que, conforme o costume, interpretava moralmente o baço afetado por um insensato modo de vida - isto é, como mordida da própria consciência moral."A lógica do ressentimento é esta que acredita no efeito de causas pura e simplesmente marginais, ou seja, precisamente a moralidade rígida é algo que é uma conseqüência das indisposições do corpo.
sábado, 24 de julho de 2010
Nietzsche é um bom companheiro - aula I
Giacoia - Aula sobre o aforismo 354 da Gaia Ciência
Não é nada simples ler algo que tenta descostruir aquilo sobre o qual se erige os fundamentos da modernidade. Num sábado, já sem muito saco para as coisas, resolvi me aventurar sobre umas aulas do Giacoia sobre Nietzsche. Liguagem, consciência, rebaho e o corpo como fundamento para uma nova forma de se pensar a subjetividade. Topei a parada. Entrei no msn para ver se flávio estava on line para discutir minhas impressões sobre o texto. Nada. Pensei em Isaac. Sábado á noite, há mais o que se fazer. Não aqui com essa chuva chata e com a preguiça de viver que me assola. Diário é lugar de construção e de dúvidas, so, vamos lá.
Aqui tá o texto : http://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti1.htm
Vou recortar pedaços que eu sublinaria e colar aqui.
A arte é mais verdadeira do que a ciência significa simplesmente que a arte é um saber perspectivo que se sabe perspectivo, enquanto a ciência é um saber igualmente perspectivo, mas que pretende ser mais que isso. Então, neste sentido, a arte é mais verdadeira do que a ciência, por conseguinte, a arte é preferível à ciência.
Comentário: Por isso que eu acho que a psicoterapia é arte.
Professor: Então, essa é uma das discussões que se insere nesse oceano de tintas, a propósito da frase nietzschiana. Mas não me parece que isso seja uma afirmação com muito trânsito entre os terapeutas.
Comentário: Só entre os junguianos, entre os freudianos não.
Pergunta: A perspectiva do Guattari de fazer as ciências sociais, passarem da perspectiva científica para a perspectiva estética está ancorada nesta discussão?
Professor: Sem sombra de dúvida. Aliás, não por acaso, Guattari teve tanto tempo junto com o Deleuze, que andou a vida toda junto com Nietzsche.
Professor: No caso do Nietzsche, radicalmente, é uma coisa individual. Você percebe Dornelis porque exatamente Nietzsche usa as palavras tão estridentes? Por que em vez dele falar comunidade, ele fala rebanho? Por que em vez dele falar ilusão, ele fala tolice, estupidez?...
Comentário: Porque é para provocar.
Professor: Exatamente. É propositadamente estridente; é para tomar todo esse discurso consagrado na modernidade como o discurso legítimo, o discurso, o verdadeiro, o correto, o justo, etc., para tomar precisamente isso como sendo objeto de crítica. E é por isso que as figuras que o Nietzsche constrói, por exemplo, a imagem do forte e do fraco, do senhor e do escravo; quer dizer, são todas elas escolhidas a dedo com o objetivo de caminhar contra a corrente daquilo que são as idéias modernas, para ele; daquilo que é considerado como bom e justo no mundo moderno. Então, por exemplo, a crítica feroz dele à leitura de jornal. De vez em quando você se impressiona, por que ele critica tanto esse negócio de leitura de jornal.
Comentário: Porque é do rebanho.
Professor: Porque, para ele, significa formação massiva da consciência e da opinião.
Pergunta: E o que ele acharia da TV a cabo, da Globo e da globalização?
Professor: Pois é, mas isso é bem avant à la lettre uma crítica da cultura de massa. O que significa massificação da cultura? Significa, para Nietzsche, a mais extrema negação da cultura. Ou seja, qualquer tipo de globalização da opinião, significa negação do espírito. Por que negação do espírito? Porque é a impossibilidade de você pensar por si, você tem sempre que pensar heteronomamente em função de alguém que determina as coordenadas da sua percepção, do seu gosto, do seu juízo, enfim.
Ou seja, que a humanidade se congele, se fixe, nesta uniformidade, e que seja incapaz de se elevar para além de si mesmo. É esse o perigo que é pior do que morte.
Comentário: O modelo da sociedade americana.
Professor: Isso. Exatamente. Por que esse perigo é pior do que a morte?
Resposta: Porque ele intimida.
Professor: Não, é porque esteriliza o futuro. Ou seja, a morte mata simplesmente aquilo que nós somos hoje; esse perigo, ou seja, o perigo envolvido na possibilidade da reprodução infinita do mesmo, mata qualquer futuro.
Somos desiguais. A idéia de uma identidade de natureza, de uma natureza humana igual para todos, é precisamente isso que está sendo questionado, como uma forma do discurso religioso. A idéia de uma comunidade de natureza, é exatamente uma idéia, para Nietzsche, de fundo religioso, uma idéia fundamentalmente socrático-cristã. A idéia de Nietzsche, não é a idéia de uma superioridade racial ou uma superioridade fundada na diferença política, econômica ou social; na verdade, o que Nietzsche está estabelecendo aqui é uma diferença fundada justamente na singularidade de cada indivíduo.
Aquilo que Nietzsche chama de amigo é oposto ao que nós, no Ocidente, chamamos de o próximo. Então, há um belo parágrafo do Zaratustra, exatamente sobre o amigo, sobre o amigo, o distante; o distante justamente para fugir da idéia do próximo, no sentido de mostrar o que é que significa ser amigo contrariamente a ser um próximo do seu outro, do seu amigo. Ser amigo significa exatamente deixar o outro ser, por conseguinte, servir de alguma forma de estímulo permanente, para que o outro seja o outro mesmo singularmente, e não uma espécie de reflexo de si. O reflexo de si é a perspectiva do amor ao próximo.
Aliás, alguém que toma como ponto de partida a fisiologia, ele vai dizer isso, especificamente a fisiologia e o corpo, e no entanto não pode ser chamado de materialista. Por que? Porque materialismo e espiritualismo são correntes opostas da metafísica, de modo que um só faz sentido em relação ao outro. E o que ele vai querer fazer é denunciar simultaneamente a ilusão dos dois opostos. Ou seja, quem se mantém num ou noutro extremo, permanece negativamente ligado ao extremo oposto; por conseguinte, mantém-se a oposição, que é a metafísica.
Comentário: Mais uma vez ele mostra a sua afiliação ao Espinosa.
Professor: Sem dúvida. Isso nós vamos ver claramente.
Aqui está um dos pontos centrais do pensamento de Nietzsche, ou seja, a alma é entendida, no sentido nietzschiano, não como princípio unitário, mas exatamente como multiplicidade, como pluralidade; ou seja, como a idéia de uma unidade que resulta da composição da organização. Ou seja, aquilo que mais ilustra a alma, é o corpo; porque o corpo é precisamente unidade de organização, o corpo é pluralidade de sujeitos. Se vocês pensam na subjetividade de cada órgão ou de cada elemento de cada órgão.
o novo psicólogo é exatamente aquele que ao inventar uma nova representação, pode talvez encontrar alguma coisa. Ou seja, é aquele para quem talvez não exista mais diferença entre inventar e encontrar. Ou seja, aquele para quem Erfinden e Finden são movimentos que se dão no mesmo nível. Ou seja, é muito possível que ao inventar uma nova hipótese sobre a alma, isso possa servir de meio auxiliar, ou de princípio heurístico para encontrar alguma coisa. E que essa no fundo é a função das teorias científicas. Elas são invenções que talvez tornem possível efetivamente algum encontro.(...)e por que o novo? Porque o velho psicólogo é aquele que continua preso na metafísica do povo, ou seja, nas ilusões da gramática.
andré - eu penso ( descartes) x eu sou um corpo ( nietzsche)
Então, a idéia nietzschiana aqui é a idéia de que a consciência é o governante, de que a consciência é a função psíquica mais elevada, mas precisamente uma função. Ou seja, uma função dirigente, uma função de direção e de traçar diretrizes, planificações e tudo mais, mas não como algo absolutamente autárquico em relação a divisão do trabalho e aos outros elementos da organização; ao contrário, a função diretora da consciência é, precisamente como função, dependente propriamente da hierarquia e da divisão do trabalho. Portanto, é essa unidade de organização fundada na hierarquia e na diferenciação das funções; e mais especificamente é exatamente a possibilidade desta hierarquia que garante o funcionamento destas funções psíquicas consideradas superiores. Repito: a superioridade da consciência e das funções diretoras da consciência não significa uma autarquia em relação as outras funções psíquicas e corporais, mas significa um elemento a mais nesse sistema, de tal forma que essa posição diretora proeminente da consciência é inteiramente dependente da hierarquia das forças, da hierarquia das funções e da divisão do trabalho.
algumas horas depois, acabei a primeira aula. COm o tempo, tratarei das demais.
ps: os comentários desses alunos são uma coisa, ao lê-los eu me sinto absolutamente tapado.
Não é nada simples ler algo que tenta descostruir aquilo sobre o qual se erige os fundamentos da modernidade. Num sábado, já sem muito saco para as coisas, resolvi me aventurar sobre umas aulas do Giacoia sobre Nietzsche. Liguagem, consciência, rebaho e o corpo como fundamento para uma nova forma de se pensar a subjetividade. Topei a parada. Entrei no msn para ver se flávio estava on line para discutir minhas impressões sobre o texto. Nada. Pensei em Isaac. Sábado á noite, há mais o que se fazer. Não aqui com essa chuva chata e com a preguiça de viver que me assola. Diário é lugar de construção e de dúvidas, so, vamos lá.
Aqui tá o texto : http://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti1.htm
Vou recortar pedaços que eu sublinaria e colar aqui.
A arte é mais verdadeira do que a ciência significa simplesmente que a arte é um saber perspectivo que se sabe perspectivo, enquanto a ciência é um saber igualmente perspectivo, mas que pretende ser mais que isso. Então, neste sentido, a arte é mais verdadeira do que a ciência, por conseguinte, a arte é preferível à ciência.
Comentário: Por isso que eu acho que a psicoterapia é arte.
Professor: Então, essa é uma das discussões que se insere nesse oceano de tintas, a propósito da frase nietzschiana. Mas não me parece que isso seja uma afirmação com muito trânsito entre os terapeutas.
Comentário: Só entre os junguianos, entre os freudianos não.
Pergunta: A perspectiva do Guattari de fazer as ciências sociais, passarem da perspectiva científica para a perspectiva estética está ancorada nesta discussão?
Professor: Sem sombra de dúvida. Aliás, não por acaso, Guattari teve tanto tempo junto com o Deleuze, que andou a vida toda junto com Nietzsche.
Professor: No caso do Nietzsche, radicalmente, é uma coisa individual. Você percebe Dornelis porque exatamente Nietzsche usa as palavras tão estridentes? Por que em vez dele falar comunidade, ele fala rebanho? Por que em vez dele falar ilusão, ele fala tolice, estupidez?...
Comentário: Porque é para provocar.
Professor: Exatamente. É propositadamente estridente; é para tomar todo esse discurso consagrado na modernidade como o discurso legítimo, o discurso, o verdadeiro, o correto, o justo, etc., para tomar precisamente isso como sendo objeto de crítica. E é por isso que as figuras que o Nietzsche constrói, por exemplo, a imagem do forte e do fraco, do senhor e do escravo; quer dizer, são todas elas escolhidas a dedo com o objetivo de caminhar contra a corrente daquilo que são as idéias modernas, para ele; daquilo que é considerado como bom e justo no mundo moderno. Então, por exemplo, a crítica feroz dele à leitura de jornal. De vez em quando você se impressiona, por que ele critica tanto esse negócio de leitura de jornal.
Comentário: Porque é do rebanho.
Professor: Porque, para ele, significa formação massiva da consciência e da opinião.
Pergunta: E o que ele acharia da TV a cabo, da Globo e da globalização?
Professor: Pois é, mas isso é bem avant à la lettre uma crítica da cultura de massa. O que significa massificação da cultura? Significa, para Nietzsche, a mais extrema negação da cultura. Ou seja, qualquer tipo de globalização da opinião, significa negação do espírito. Por que negação do espírito? Porque é a impossibilidade de você pensar por si, você tem sempre que pensar heteronomamente em função de alguém que determina as coordenadas da sua percepção, do seu gosto, do seu juízo, enfim.
Ou seja, que a humanidade se congele, se fixe, nesta uniformidade, e que seja incapaz de se elevar para além de si mesmo. É esse o perigo que é pior do que morte.
Comentário: O modelo da sociedade americana.
Professor: Isso. Exatamente. Por que esse perigo é pior do que a morte?
Resposta: Porque ele intimida.
Professor: Não, é porque esteriliza o futuro. Ou seja, a morte mata simplesmente aquilo que nós somos hoje; esse perigo, ou seja, o perigo envolvido na possibilidade da reprodução infinita do mesmo, mata qualquer futuro.
Somos desiguais. A idéia de uma identidade de natureza, de uma natureza humana igual para todos, é precisamente isso que está sendo questionado, como uma forma do discurso religioso. A idéia de uma comunidade de natureza, é exatamente uma idéia, para Nietzsche, de fundo religioso, uma idéia fundamentalmente socrático-cristã. A idéia de Nietzsche, não é a idéia de uma superioridade racial ou uma superioridade fundada na diferença política, econômica ou social; na verdade, o que Nietzsche está estabelecendo aqui é uma diferença fundada justamente na singularidade de cada indivíduo.
Aquilo que Nietzsche chama de amigo é oposto ao que nós, no Ocidente, chamamos de o próximo. Então, há um belo parágrafo do Zaratustra, exatamente sobre o amigo, sobre o amigo, o distante; o distante justamente para fugir da idéia do próximo, no sentido de mostrar o que é que significa ser amigo contrariamente a ser um próximo do seu outro, do seu amigo. Ser amigo significa exatamente deixar o outro ser, por conseguinte, servir de alguma forma de estímulo permanente, para que o outro seja o outro mesmo singularmente, e não uma espécie de reflexo de si. O reflexo de si é a perspectiva do amor ao próximo.
Aliás, alguém que toma como ponto de partida a fisiologia, ele vai dizer isso, especificamente a fisiologia e o corpo, e no entanto não pode ser chamado de materialista. Por que? Porque materialismo e espiritualismo são correntes opostas da metafísica, de modo que um só faz sentido em relação ao outro. E o que ele vai querer fazer é denunciar simultaneamente a ilusão dos dois opostos. Ou seja, quem se mantém num ou noutro extremo, permanece negativamente ligado ao extremo oposto; por conseguinte, mantém-se a oposição, que é a metafísica.
Comentário: Mais uma vez ele mostra a sua afiliação ao Espinosa.
Professor: Sem dúvida. Isso nós vamos ver claramente.
Aqui está um dos pontos centrais do pensamento de Nietzsche, ou seja, a alma é entendida, no sentido nietzschiano, não como princípio unitário, mas exatamente como multiplicidade, como pluralidade; ou seja, como a idéia de uma unidade que resulta da composição da organização. Ou seja, aquilo que mais ilustra a alma, é o corpo; porque o corpo é precisamente unidade de organização, o corpo é pluralidade de sujeitos. Se vocês pensam na subjetividade de cada órgão ou de cada elemento de cada órgão.
o novo psicólogo é exatamente aquele que ao inventar uma nova representação, pode talvez encontrar alguma coisa. Ou seja, é aquele para quem talvez não exista mais diferença entre inventar e encontrar. Ou seja, aquele para quem Erfinden e Finden são movimentos que se dão no mesmo nível. Ou seja, é muito possível que ao inventar uma nova hipótese sobre a alma, isso possa servir de meio auxiliar, ou de princípio heurístico para encontrar alguma coisa. E que essa no fundo é a função das teorias científicas. Elas são invenções que talvez tornem possível efetivamente algum encontro.(...)e por que o novo? Porque o velho psicólogo é aquele que continua preso na metafísica do povo, ou seja, nas ilusões da gramática.
andré - eu penso ( descartes) x eu sou um corpo ( nietzsche)
Então, a idéia nietzschiana aqui é a idéia de que a consciência é o governante, de que a consciência é a função psíquica mais elevada, mas precisamente uma função. Ou seja, uma função dirigente, uma função de direção e de traçar diretrizes, planificações e tudo mais, mas não como algo absolutamente autárquico em relação a divisão do trabalho e aos outros elementos da organização; ao contrário, a função diretora da consciência é, precisamente como função, dependente propriamente da hierarquia e da divisão do trabalho. Portanto, é essa unidade de organização fundada na hierarquia e na diferenciação das funções; e mais especificamente é exatamente a possibilidade desta hierarquia que garante o funcionamento destas funções psíquicas consideradas superiores. Repito: a superioridade da consciência e das funções diretoras da consciência não significa uma autarquia em relação as outras funções psíquicas e corporais, mas significa um elemento a mais nesse sistema, de tal forma que essa posição diretora proeminente da consciência é inteiramente dependente da hierarquia das forças, da hierarquia das funções e da divisão do trabalho.
algumas horas depois, acabei a primeira aula. COm o tempo, tratarei das demais.
ps: os comentários desses alunos são uma coisa, ao lê-los eu me sinto absolutamente tapado.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
22 de Julho - Assalto
Hoje, na volta de casa, no meu mais tranquilo caminho de casa, a violência travestida fez seu trotoar na minha vidinha pacata. Assim, chato ver o quanto o medo é efetivo para nos paralisar. O cara, alguém da minha idade e com menos perspectivas, vestia um moleton e dizia estar armado. Se estava ou não, não sei. Não quis, dessa vez, discutir com ele. Fiquei surpreso quando ele me pediu minha jaqueta - gostava dela, sabe? Como assim levar uma jaqueta? Ao voltar pra casa sem ela, me dei conta de que esse era um objeto importante e que sendo assim, era algo passível de ser roubado. Como sair da lamúria pessoal e usar isto como algo maior? Pois é. Voltei pra casa dividido entre a lamúria pessoal de um pequeno burguês sem grana e o que podia produzir a partir disso.
Hoje á tarde falava do conceito de risco em saúde e das limitações dele para dar conta de um modo de cuidado onde a produção de vida fosse o objetivo. Penso que posso ir por aí. A princípio, eu não estava em uma situação de risco - sexta feira, andei por aquela mesma rua ás 03:30 da manhã; e mais, hoje eu queria muito andar para casa. Sendo assim, pensei em duas coisas, a primeira diz respeito a uma certa ineficiência da idéia de risco para programar as ações. Como assim? Olha, diante de um quadro de violência generalizada e mui democrática, em algum momento, ela vai acabar cruzando com você. Diante de condições sanitárias tão complicadas, hora ou outra, os indivíduos vão acabar adoecendo. As condições de adoecimento estão postas. Não há muito o que ser feito se não modificarmos estas. Os fatores de proteção são insuficientes para dar conta de tamanha vulnerabilidade.
A segunda é a dimensão de escolha frente ao risco, dado que há sempres outras necessidades que estão postas para além da de saúde ou, no meu caso, segurança. Eu queria caminhar, precisava caminhar. O cara que transa sem camisinha, a pessoa que usa droga, o diabético que come açucar, o hipertenso que exagera no sal e se fode na pressão, assim como eu, fizeram uma escolha. Toparam arriscar.
Acho que para promover autonomia é preciso dar dimensão das consequencias das ações. Informação? Sim. Só isso? Acho que não. É preciso, talvez, deixar que as pessoas sintam em seus corpos os efeitos das escolhas para dar a elas algo mais que uma informação técnica. Acho que isso ajudará a construir uma clínica que não trabalhe com corpos calados, quietos, silênciados frente ao imperativo técnico do risco.
Deu. Espero que isso tampone e minha vontade de falar disso e que isso me seja útil depois.
Hoje á tarde falava do conceito de risco em saúde e das limitações dele para dar conta de um modo de cuidado onde a produção de vida fosse o objetivo. Penso que posso ir por aí. A princípio, eu não estava em uma situação de risco - sexta feira, andei por aquela mesma rua ás 03:30 da manhã; e mais, hoje eu queria muito andar para casa. Sendo assim, pensei em duas coisas, a primeira diz respeito a uma certa ineficiência da idéia de risco para programar as ações. Como assim? Olha, diante de um quadro de violência generalizada e mui democrática, em algum momento, ela vai acabar cruzando com você. Diante de condições sanitárias tão complicadas, hora ou outra, os indivíduos vão acabar adoecendo. As condições de adoecimento estão postas. Não há muito o que ser feito se não modificarmos estas. Os fatores de proteção são insuficientes para dar conta de tamanha vulnerabilidade.
A segunda é a dimensão de escolha frente ao risco, dado que há sempres outras necessidades que estão postas para além da de saúde ou, no meu caso, segurança. Eu queria caminhar, precisava caminhar. O cara que transa sem camisinha, a pessoa que usa droga, o diabético que come açucar, o hipertenso que exagera no sal e se fode na pressão, assim como eu, fizeram uma escolha. Toparam arriscar.
Acho que para promover autonomia é preciso dar dimensão das consequencias das ações. Informação? Sim. Só isso? Acho que não. É preciso, talvez, deixar que as pessoas sintam em seus corpos os efeitos das escolhas para dar a elas algo mais que uma informação técnica. Acho que isso ajudará a construir uma clínica que não trabalhe com corpos calados, quietos, silênciados frente ao imperativo técnico do risco.
Deu. Espero que isso tampone e minha vontade de falar disso e que isso me seja útil depois.
domingo, 11 de julho de 2010
quarta-feira, 7 de julho de 2010
07 de julho - Hospital de Clínicas - Porto Alegre
Minha garganta ainda não aceito o fato de que eu moro em um lugar frio. Ela, tem marcado sua insatisfação de modos bem veementes. Esta semana ela aprontou novamente. O bom das traquinagens dela é que elas me permitem experiênciar o lugar de usuário do SUS.
Pois é, hoje fui na emergência do clínicas em busca de uma solução rápida para a garganta protestando. Dei sorte e a recepção não estava cheia. Tivemos problemas no cadastro e isso me fez ficar na recepção, por pelo menos 20 minutos. A moça foi gentil e simpática. Ela tinha um boton que fazia menção a algum prêmio de qualidade conseguido pelo hospital. Enfim, o João ficou lá comigo este tempo. Quando me disseram para entrar, disse a ele que poderia ir embora que eu me viraria sozinho.
A emergência trabalha com acolhimento e classificação de risco. Cheguei lá as 18:00. Fiquei vendo as pessoas. E me dando dimensão de que o trabalho em saúde necessariamente é produtor de afetos. Não há como sair ileso dali. Havia todo um esforço por parte da equipe técnica em chamar as pessoas pelo nome, em mostrar interesse pela histórias e acho isso absolutamente louvável. Acho que é um ganho e que precisaria se alastrar por todo o setor da saúde.
Quando fui acolhido - uns bons quarenta minutos depois - descobri o que eu já sabia. Meu caso não era grave, sendo assim, eu poderia esperar. Descobri que a minha consulta estava prevista para as 23:00. Eram 18:30.Perguntei se poderia sair e voltar mais próximo do horário previsto - descobri que não pois isto descaraterizaria a urgência. Perguntei se poderia desistir.Tomei um analgésico e fui embora. Enqunto saia de lá pensava em quanto é difícil ser solidário quando se tem dor. Claro que eu concordo com a classifiação de risco. Óbvio que o senhor que teve um derrame deveria ser atendido antes da minha crise de garganta. Mesmo assim, lá no fundo do meu egozinho pequeno burguês e autocentrado, eu quis que alguém me desse uma solução para parar a dor. Saindo do hospital escrevi pra dirceu e pedi uma indicação de remédio. Horas depois, com o analgésico já funcionando e um banho já tomado, veio a resposta. Comprei na farmácia e espero que funcione.
ps:Minha garganta ainda não aceito o fato de que eu moro em um lugar frio. Ela, tem marcado sua insatisfação de modos bem veementes. (...)É, hoje fui na emergência do Hospital de clínicas em busca de uma solução rápida para a garganta protestando. Dei sorte e a recepção não estava cheia. (...)
Eles trabalham com acolhimento e classificação de risco. Cheguei lá as 18:00. Fiquei vendo as pessoas. E me dando dimensão de que o trabalho em saúde necessariamente é produtor de afetos. Não há como sair ileso dali. Havia todo um esforço por parte da equipe técnica em chamar as pessoas pelo nome, em mostrar interesse pela histórias e acho isso absolutamente louvável.Não me parece adequado para ninguém continuar tratando a questão apenas no plano da técnica. As emoções fazem parte do trabalho em saúde. Um humano não costuma sair incólume da relação com outro. Vendo estes trabalhadores se esforçarem para serem "mais humanos" penso em que suporte eles precisariam para poder fazer isto com menos pesar. Afinal, frente a todos os problemas do SUS não dá pra chamar de desumano o sujeito que precisa trabalhar em três lugares para conseguir pagar as próprias contas.
Pois é, hoje fui na emergência do clínicas em busca de uma solução rápida para a garganta protestando. Dei sorte e a recepção não estava cheia. Tivemos problemas no cadastro e isso me fez ficar na recepção, por pelo menos 20 minutos. A moça foi gentil e simpática. Ela tinha um boton que fazia menção a algum prêmio de qualidade conseguido pelo hospital. Enfim, o João ficou lá comigo este tempo. Quando me disseram para entrar, disse a ele que poderia ir embora que eu me viraria sozinho.
A emergência trabalha com acolhimento e classificação de risco. Cheguei lá as 18:00. Fiquei vendo as pessoas. E me dando dimensão de que o trabalho em saúde necessariamente é produtor de afetos. Não há como sair ileso dali. Havia todo um esforço por parte da equipe técnica em chamar as pessoas pelo nome, em mostrar interesse pela histórias e acho isso absolutamente louvável. Acho que é um ganho e que precisaria se alastrar por todo o setor da saúde.
Quando fui acolhido - uns bons quarenta minutos depois - descobri o que eu já sabia. Meu caso não era grave, sendo assim, eu poderia esperar. Descobri que a minha consulta estava prevista para as 23:00. Eram 18:30.Perguntei se poderia sair e voltar mais próximo do horário previsto - descobri que não pois isto descaraterizaria a urgência. Perguntei se poderia desistir.Tomei um analgésico e fui embora. Enqunto saia de lá pensava em quanto é difícil ser solidário quando se tem dor. Claro que eu concordo com a classifiação de risco. Óbvio que o senhor que teve um derrame deveria ser atendido antes da minha crise de garganta. Mesmo assim, lá no fundo do meu egozinho pequeno burguês e autocentrado, eu quis que alguém me desse uma solução para parar a dor. Saindo do hospital escrevi pra dirceu e pedi uma indicação de remédio. Horas depois, com o analgésico já funcionando e um banho já tomado, veio a resposta. Comprei na farmácia e espero que funcione.
ps:Minha garganta ainda não aceito o fato de que eu moro em um lugar frio. Ela, tem marcado sua insatisfação de modos bem veementes. (...)É, hoje fui na emergência do Hospital de clínicas em busca de uma solução rápida para a garganta protestando. Dei sorte e a recepção não estava cheia. (...)
Eles trabalham com acolhimento e classificação de risco. Cheguei lá as 18:00. Fiquei vendo as pessoas. E me dando dimensão de que o trabalho em saúde necessariamente é produtor de afetos. Não há como sair ileso dali. Havia todo um esforço por parte da equipe técnica em chamar as pessoas pelo nome, em mostrar interesse pela histórias e acho isso absolutamente louvável.Não me parece adequado para ninguém continuar tratando a questão apenas no plano da técnica. As emoções fazem parte do trabalho em saúde. Um humano não costuma sair incólume da relação com outro. Vendo estes trabalhadores se esforçarem para serem "mais humanos" penso em que suporte eles precisariam para poder fazer isto com menos pesar. Afinal, frente a todos os problemas do SUS não dá pra chamar de desumano o sujeito que precisa trabalhar em três lugares para conseguir pagar as próprias contas.
terça-feira, 6 de julho de 2010
06 de Julho - Questão de Pesquisa
O Agente comunitário de saúde como força motriz da desinstitucionalização
André Luis Leite
Orientadora: Simone Mainieri Paulon
Julho 2009
Orientadora: Simone Mainieri Paulon
Julho 2009
Campo Problemático
Reformas no Campo da Assistência em Saúde
Reforma Sanitária
Reforma Psiquiátrica
Movimento de Reforma Italiano
Conceito de desinstitucionalização
Reforma Sanitária
Reforma Psiquiátrica
Movimento de Reforma Italiano
Conceito de desinstitucionalização
Loucura
Institucionalização
conjunto de aparatos científicos, legislativos, administrativos, de códigos de referência cultural e de relações de poder estruturadas em torno de um objeto preciso: a doença, a qual se sobrepõe no manicômio o objeto periculosidade” (Rotelli, F.; Leonardis O. de; Mauri, D, 2001, p. 90)
conjunto de aparatos científicos, legislativos, administrativos, de códigos de referência cultural e de relações de poder estruturadas em torno de um objeto preciso: a doença, a qual se sobrepõe no manicômio o objeto periculosidade” (Rotelli, F.; Leonardis O. de; Mauri, D, 2001, p. 90)
Desinstitucionalização
Desinstitucionalizar, nesse sentido mais amplo, é desconstruir comportamentos, práticas e relações postos a serviço da disciplinarização dos corpos,da rotulação e da estigmatizaçãodos que se encontram com um transtorno psíquico ou, dito de outra forma, daqueles que são movidos por ‘outras razões’.
(OLIVEIRA, AMARANTE, PADILHA 2010, S/N)
Paradigmas
conjuntos articulados de valores e interesses que se estratificam, criam dispositivos (leves ou pesados) e podem chegar à polarização. Situação em que fica indisfarçável sua função de peças na estratégia de hegemonia de subconjuntos de interesses e valores sociais específicos
Modificações Paradigmáticas
SUS - Promoção á Saúde
Cuidado Territorial
Multiprofissional
Integralidade
Vínculos
Cuidado Territorial
Multiprofissional
Integralidade
Vínculos
R.P - Atenção Psicossocial
Vínculos
Multiprofissional
Cuidado Territorial
Integralidade
O Agente comunitário de Saúde
Pertencente a comunidade
Não especialista
Nômade
Capital Social como instrumento de Trabalho
Difusor de informações no território
Elo entre o posto e a comunidade
Que habilidades (teórico-prático-metodológicas) podem auxiliar a efetivação de uma prática clínica desinstitucionalizante efetivada pelos ACS? Quais as ações já desenvolvidas? Quais as dificuldades encontradas? Que tipo de suporte necessitam?
Campo teórico metodológico
Paradigma Pós Estruturalista
Analise Institucional Francesa
Tensão Insituinte x Instituído
Inspiração Cartográfica
Acompanhamento de Processos
Caixa de Ferramentas
Grupos Focais
Entrevistas com diversos atores institucionais envolvidos
Visitas Domiciliares
Encontros de Formação
Diário de Campo -Blog
segunda-feira, 5 de julho de 2010
05 de Julho - Que a vida não me seja indiferente
Sobre por que arrumar uma causa como modo de vida
Eu nã queria que você tivesse morrido - disse Harry as palavras saindo involuntariamente - Nenhum de vocês, sinto muito...
Ele se dirigiamais a lupin mais do que a qualquer um dos demais, súplice.
- ...logo depois de ter tido um filho Remo, sinto muito...
- Eu também sinto.Lamento que nunca chegarei a conhecê-lo...mas ele saberá por que morri, e espero que entenda. Estive tentando construir um mundo em que ele pudesse viver uma vida mais feliz.
Eu nã queria que você tivesse morrido - disse Harry as palavras saindo involuntariamente - Nenhum de vocês, sinto muito...
Ele se dirigiamais a lupin mais do que a qualquer um dos demais, súplice.
- ...logo depois de ter tido um filho Remo, sinto muito...
- Eu também sinto.Lamento que nunca chegarei a conhecê-lo...mas ele saberá por que morri, e espero que entenda. Estive tentando construir um mundo em que ele pudesse viver uma vida mais feliz.
domingo, 4 de julho de 2010
03 de Julho – Cabaret – O que pode um corpo?
Sexta á noite em Porto Alegre significa um dos meus terrores pessoais. Sair ou não sair? Admitir minha composição nerdiana e aceitar o fato de que eu não sou de sair? Ou forçar esta composição até o limite – forçando também a composição de mal vestido e preguiçoso – e sair? Nesta sexta não foi diferente. Pesando prós e contras, fui. De saída, percebi que estava ali, mas, em uma posição diferenciada da dos demais. Ah,em tempo, resolvi que,dessa vez, não ia forçar os meus limites com a ingestão de álcool.
Bom, o lugar estava apertado ( crowded, definiria melhor), muito apertado. Andar era uma tarefa árdua. Em pouco tempo, pouco mesmo, me dei conta de que o aperto estava adequado á proposta. Aquele lugar estava tomado por corpos de pessoas entre 20 e 30 anos – preferencialmente - buscando, a qualquer preço, um toque ( quem sabe até um toque retal), um abraço, um beijo, algum tipo de contato. Talvez nem tanto. Um contato mínimo ( alguém agarrou minha mão enquanto eu passava, um outro me segurou pelo ombro, etc). Pensei na fragilização das relações,da virtualização e imaterialidade pós modernas, e na insegurança em que isso joga o homem moderno – sempre sedento de prazeres efêmeros e de custo baixo - o consumo de crack apenas aglutina tudo isso á custos baixos e prazeres intensos.
Na hora fiquei chocado – tanto quanto me chocou pensar nisso em plena muvuca. Mas sim, eram “corpos abertos” a qualquer coisa que lembrasse um encontro (Obrigado, Spinoza. Uns se moviam de um lado para o outro, outros se flechavam com olhares dissimulados e pidões. Olhos de quem tem fome, e não é uma fome qualquer. Minha ideia é de que esses olhos querem mais, eles podem mais. Talvez não tenham se dado conta mas, sexo rápido e mal feito em um box imundo de banheiro, não é o máximo que eles podem extrair de um outro corpo. Há mais. Muito mais.
Na modernidade, pensei uma hora dessas, o sexo vem primeiro e a intimidade, quem sabe, depois, então, o que mais esses corpos se atreveriam a pedir? O que mais lhes é permitido querer? O fato de estar em uma posição especular a deles – eu ontem não queria pessoas, queria música, cerveja e dançar sozinho. Acabou permitindo que eu entendesse um pouco disso. A música tema do meu momento ontem era “Hoje eu quero sair só” - Lenine.
Como o tema da festa eram os anos noventa do século vinte, em algum ponto, foi tocada a música que me pareceu esclarecer tudo. Ou, pelo menos, dar as chaves de entendimento para todo aquele movimento que se passava a meu redor
Hello, Hello, How low? Quão devagar da pra ir em uma geração que por ter tudo de forma imediata? Devagar? Pra quê? The show must go on, never stops the music, walk on. Não dá, não há espaço para lacunas onde caibam pensamentos, dúvidas ou outras necessidades. Na verdade, acredito que eles até apareçam, misturados a um gosto azedo de ressaca na boca nas manhãs seguintes, mas, logo em seguida são tamponados por Luftal, Engove, Chá de boldo com paracetamol, perdendo assim, seu potencial de incomodo. Não é à toa que esta noite nunca acaba. Ela não pode acabar. Meu limite foi ás 7 da manhã. Os outros, não sei. Parece que as noites ali se estedem até as 10 da manhã.
Estou ciente de que este escrito está repleto de um tom moral. Provavelmente da moral cristã. Contudo, meu ethos foi construído a partir desta orientação, havendo sim, noções dela que ainda estão, e irão estar, presentes em mim. Sendo assim, mais do que julgar os viventes da noite pela sua ação, os interrogo pelos seus ethos. Os interrogo pelo quanto aquele lugar aumenta as suas potencias de ação. O quanto - a noite sendo um estado de exceção - ela não tampona a necessidade de que os meninos com meninos e as meninas com meninas ali inseridos, saiam dali para brigar pelo direito de se beijarem e abraçarem em espaços outros.
Posso estar errado sobre isso tudo, mas, a cada dia me descubro mais antropólogo em marte, me encontrando com os lugares e mais os observando de fora – durante esta noite depois de um tempo, fiquei de costas para as pessoas e de frente para o lugar de onde emanava o som. Isso precisa de discussão. Reativarei agora Haroldo Gabriel.
PS: Fui taxado de preconceituoso em relação a um beijo gay. Isso foi hilário. Eu estava morto de cansaço. Muito cansado mesmo. Bocejava, então com uma certa frequência. Um ser humano a meu lado me perguntou se eu estava incomodado pelo beijo deles. Eu disse que absolutamente não e segui rindo. Coisas de Porto Alegre.
Bom, o lugar estava apertado ( crowded, definiria melhor), muito apertado. Andar era uma tarefa árdua. Em pouco tempo, pouco mesmo, me dei conta de que o aperto estava adequado á proposta. Aquele lugar estava tomado por corpos de pessoas entre 20 e 30 anos – preferencialmente - buscando, a qualquer preço, um toque ( quem sabe até um toque retal), um abraço, um beijo, algum tipo de contato. Talvez nem tanto. Um contato mínimo ( alguém agarrou minha mão enquanto eu passava, um outro me segurou pelo ombro, etc). Pensei na fragilização das relações,da virtualização e imaterialidade pós modernas, e na insegurança em que isso joga o homem moderno – sempre sedento de prazeres efêmeros e de custo baixo - o consumo de crack apenas aglutina tudo isso á custos baixos e prazeres intensos.
Na hora fiquei chocado – tanto quanto me chocou pensar nisso em plena muvuca. Mas sim, eram “corpos abertos” a qualquer coisa que lembrasse um encontro (Obrigado, Spinoza. Uns se moviam de um lado para o outro, outros se flechavam com olhares dissimulados e pidões. Olhos de quem tem fome, e não é uma fome qualquer. Minha ideia é de que esses olhos querem mais, eles podem mais. Talvez não tenham se dado conta mas, sexo rápido e mal feito em um box imundo de banheiro, não é o máximo que eles podem extrair de um outro corpo. Há mais. Muito mais.
Na modernidade, pensei uma hora dessas, o sexo vem primeiro e a intimidade, quem sabe, depois, então, o que mais esses corpos se atreveriam a pedir? O que mais lhes é permitido querer? O fato de estar em uma posição especular a deles – eu ontem não queria pessoas, queria música, cerveja e dançar sozinho. Acabou permitindo que eu entendesse um pouco disso. A música tema do meu momento ontem era “Hoje eu quero sair só” - Lenine.
Como o tema da festa eram os anos noventa do século vinte, em algum ponto, foi tocada a música que me pareceu esclarecer tudo. Ou, pelo menos, dar as chaves de entendimento para todo aquele movimento que se passava a meu redor
Hello, Hello, How low? Quão devagar da pra ir em uma geração que por ter tudo de forma imediata? Devagar? Pra quê? The show must go on, never stops the music, walk on. Não dá, não há espaço para lacunas onde caibam pensamentos, dúvidas ou outras necessidades. Na verdade, acredito que eles até apareçam, misturados a um gosto azedo de ressaca na boca nas manhãs seguintes, mas, logo em seguida são tamponados por Luftal, Engove, Chá de boldo com paracetamol, perdendo assim, seu potencial de incomodo. Não é à toa que esta noite nunca acaba. Ela não pode acabar. Meu limite foi ás 7 da manhã. Os outros, não sei. Parece que as noites ali se estedem até as 10 da manhã.
Estou ciente de que este escrito está repleto de um tom moral. Provavelmente da moral cristã. Contudo, meu ethos foi construído a partir desta orientação, havendo sim, noções dela que ainda estão, e irão estar, presentes em mim. Sendo assim, mais do que julgar os viventes da noite pela sua ação, os interrogo pelos seus ethos. Os interrogo pelo quanto aquele lugar aumenta as suas potencias de ação. O quanto - a noite sendo um estado de exceção - ela não tampona a necessidade de que os meninos com meninos e as meninas com meninas ali inseridos, saiam dali para brigar pelo direito de se beijarem e abraçarem em espaços outros.
Posso estar errado sobre isso tudo, mas, a cada dia me descubro mais antropólogo em marte, me encontrando com os lugares e mais os observando de fora – durante esta noite depois de um tempo, fiquei de costas para as pessoas e de frente para o lugar de onde emanava o som. Isso precisa de discussão. Reativarei agora Haroldo Gabriel.
PS: Fui taxado de preconceituoso em relação a um beijo gay. Isso foi hilário. Eu estava morto de cansaço. Muito cansado mesmo. Bocejava, então com uma certa frequência. Um ser humano a meu lado me perguntou se eu estava incomodado pelo beijo deles. Eu disse que absolutamente não e segui rindo. Coisas de Porto Alegre.
01 de Julho – Conferência de Saúde Mental, do avião
Mantenho minha crítica – que será aprofundada em um artigo com Silvio ou Simone – de que a modelo de participação precisa ser revisto. Contudo, alguém comentando a fala do Ticanori, me esclareceu a função ritualística daquele momento. Esta fala direcionou todo o meu posicionamento dentro da conferência e fez tudo fazer mais sentido.
Devido a maratona que foi o trabalho de aprovação das 1252 propostas na plenária final (para os presentes, o ponto alto do trabalho; para mim um esforço absurdamente inútil - eu estava a ponto de matar aquelas figuras todas) eu já não queria saber de nada que fosse democrático. Por volta de 01:00 da manhã, vendo as pessoas - as poucas ainda presentes – se degladiando para falar e defender aquilo, conversava com Gabriel. Interrogávamos se elas realmente acreditavam naquilo que estavam fazendo. Pensei que sim, o Gabriel também. Lembrei da função ritualística daquele momento. Respirei fundo, fui para um canto onde eu pudesse ficar quieto, não incomodar e não ser incomodado. Dormi uns 40 minutos e ganhei mais forças para retomar a minha observação.
Levantei ás 01:50. Desci. Faltavam poucas propostas. Em pouco mais de meia hora estas foram vencidas. Só faltavam as moções. Reta final. Surpresa e prazer ao ver que na leitura destas, ficou claro que apenas aquelas da delegação do RS – graças a um trabalho realizado durante o jogo da seleção - eram assinadas pela delegação. Pareciam ser as únicas que haviam sido, aparentemte, decididas em conjunto, trabalhadas em conjunto, mesmo a revelia de pequenos seres. Muito bom isso! Mesmo! Deu um prazer imenso de ver projetado naquele telão a assinatura DELEGAÇÃO DO RS. Não resisti e falei com a Lívia – incrível como me sinto seguro perto dela. Ela, tomada pelo cansaço, não deu tanta importância para minha pequena vitória. Pois é. Caminhávamos para o final.
A leitura da última moção, a plenária gritando e jogando as coisas para cima, as pessoas se abraçando, clima de trabalho realizado invadindo o lugar. Neste momento, pensando o ritual como promotor de encontros entre pessoas, aquile esforço todo fez um pouco mais de sentido. Foi muito emocionante ver isso acontecendo. Estar ali, no meio daquela gente gaúcha,no meio daquele povo todo, no meio de pessoas para quem as coisas que me são importantes também dizem muito foi muuuuuuuuuuito bom! A raiva não passou, a idéia de interrogar o modelo também não. Contudo, no meio da guerra fria que estava aquela plenária, este foi um momento de calor.
Subimos no palco, abracei a Sandra (que estava em prantos).O Eduardo estava pedindo um abraço á alguém – ou alguém pedia um abraço a ele? Enfim, o clima virou. Éramos, novamente, militantes por um ideal. Estar lá, valeu a pena. Sentia isso assim, meio tímido, mas estava lá.
Voltamos para o Hotel e a festa se deu. Rimos muito, contaram histórias e celebramos a vida e a vitória. Lá pelas 5 capotei de sono.
Devido a maratona que foi o trabalho de aprovação das 1252 propostas na plenária final (para os presentes, o ponto alto do trabalho; para mim um esforço absurdamente inútil - eu estava a ponto de matar aquelas figuras todas) eu já não queria saber de nada que fosse democrático. Por volta de 01:00 da manhã, vendo as pessoas - as poucas ainda presentes – se degladiando para falar e defender aquilo, conversava com Gabriel. Interrogávamos se elas realmente acreditavam naquilo que estavam fazendo. Pensei que sim, o Gabriel também. Lembrei da função ritualística daquele momento. Respirei fundo, fui para um canto onde eu pudesse ficar quieto, não incomodar e não ser incomodado. Dormi uns 40 minutos e ganhei mais forças para retomar a minha observação.
Levantei ás 01:50. Desci. Faltavam poucas propostas. Em pouco mais de meia hora estas foram vencidas. Só faltavam as moções. Reta final. Surpresa e prazer ao ver que na leitura destas, ficou claro que apenas aquelas da delegação do RS – graças a um trabalho realizado durante o jogo da seleção - eram assinadas pela delegação. Pareciam ser as únicas que haviam sido, aparentemte, decididas em conjunto, trabalhadas em conjunto, mesmo a revelia de pequenos seres. Muito bom isso! Mesmo! Deu um prazer imenso de ver projetado naquele telão a assinatura DELEGAÇÃO DO RS. Não resisti e falei com a Lívia – incrível como me sinto seguro perto dela. Ela, tomada pelo cansaço, não deu tanta importância para minha pequena vitória. Pois é. Caminhávamos para o final.
A leitura da última moção, a plenária gritando e jogando as coisas para cima, as pessoas se abraçando, clima de trabalho realizado invadindo o lugar. Neste momento, pensando o ritual como promotor de encontros entre pessoas, aquile esforço todo fez um pouco mais de sentido. Foi muito emocionante ver isso acontecendo. Estar ali, no meio daquela gente gaúcha,no meio daquele povo todo, no meio de pessoas para quem as coisas que me são importantes também dizem muito foi muuuuuuuuuuito bom! A raiva não passou, a idéia de interrogar o modelo também não. Contudo, no meio da guerra fria que estava aquela plenária, este foi um momento de calor.
Subimos no palco, abracei a Sandra (que estava em prantos).O Eduardo estava pedindo um abraço á alguém – ou alguém pedia um abraço a ele? Enfim, o clima virou. Éramos, novamente, militantes por um ideal. Estar lá, valeu a pena. Sentia isso assim, meio tímido, mas estava lá.
Voltamos para o Hotel e a festa se deu. Rimos muito, contaram histórias e celebramos a vida e a vitória. Lá pelas 5 capotei de sono.
27 de Junho - Conferência Nacional de Saúde Mental
Desde a Conferência Estadual de Saúde Mental do RS, me pergunto, muito, sobre a questão da participação social. Estou plenamente convicto de que o modelo de plenária final de conferência é um modelo desgastado, insuficiente, e que favorece um modo de funcionamento que deverás complicado. Ainda tem mais, ele favorece exposição de caráter egóico - as pessoas ficam de papo, aproveitam para falar qualquer coisa ou reinvindicar detalhes que julgam extremamente importantes e que tiram do foco as questões centrais. Tudo bem, sei que isso diz muito de mim, contudo, acho que tem uma parte desta questão que é mais factual e menos psicanalítica. A sensação que dá é que a participação popular está esvaziada e que a militancia é sempre identitária e para auto promoção. Bom, isso é fruto da minha insatisfação frente a decisão da plenária a respeito do regulamento da conferência onde foi aprovado que os textos podem ser reescritos durante a plenária final.
A experiência em São Lourenço me deixou super atacado com isso. Com essas noções de participação e com as implicações metodológicas que elas trazem para o trabalho. Tinha duas opções, calar ou tentar fazer algo como meu incômodo. Optei pelo segundo e fui falar com o Eduardo (Legal chamar o Vasconcelos, 2000 e sempre de Eduardo) sobre a questão da plenária final. Ele, prontamente, ouviu minha idéia de usar colegas para síntese de dos destaques diferentes. Acho que vamos funcionar. Eu também falei em não ir para a plenária e alguém me falou que algumas experiências valem ser vividas. Se não rolar o trabalho PNH na quinta, vou tratar de vir, não antes de meio dia, mas virei.
A experiência em São Lourenço me deixou super atacado com isso. Com essas noções de participação e com as implicações metodológicas que elas trazem para o trabalho. Tinha duas opções, calar ou tentar fazer algo como meu incômodo. Optei pelo segundo e fui falar com o Eduardo (Legal chamar o Vasconcelos, 2000 e sempre de Eduardo) sobre a questão da plenária final. Ele, prontamente, ouviu minha idéia de usar colegas para síntese de dos destaques diferentes. Acho que vamos funcionar. Eu também falei em não ir para a plenária e alguém me falou que algumas experiências valem ser vividas. Se não rolar o trabalho PNH na quinta, vou tratar de vir, não antes de meio dia, mas virei.
28 de Junho - Conferência Nacional de Saúde Mental
Muita raiva ao ver o que foi feito das propostas estaduais na conferência estadual. Novamente a questão da participação, de como é uma coisa pessoalizada ( durante uma reunião com a comissão gaúcha, alguém sugere que a delegação tenha em mãos suas propostas para identificá-las no meio das demais. (Por que essa questão identitária tão forte?????)Não importa quem propôs, importa que tenha sido proposto. Nesse sentido, o Nietzsche quando fala que a vida de um indivíduo é menor frente á obra dele tem toda razão. Enfim, me sinto muito de fora. Contudo, insisto com o Raul “quando acabar o maluco sou eu”.
Nesse momento alguém fala sobre o uso deste espaço como palco de vaidade e para discursos retóricos vazios. Muito bom. A minha pergunta insiste, como fazer algo diferente?
Notas Soltas
A conferêcia é o espaço onde a população pode falar diretamente com os gestores. Acho que isso reflete a idéia de que só o gestor poderia resolver. A participação anda mesmo meio esvaziada.
ACS como conselheira de saúde – muito bom!( ela falou sobre a terapia comunitária como questão)
Quem disso ama, disso cuida ( foucault) como pensar algo além da minha questão individual e mesmo, de que modos a questão individual possa ser usada para dizer mais. Nossa, a cada minuto, fico mais confuso sobre a questão da participação e a que se deve a ligação das pessoas com isso e de como a questão do umbigo pode ser ultrapassada.
Nesse momento alguém fala sobre o uso deste espaço como palco de vaidade e para discursos retóricos vazios. Muito bom. A minha pergunta insiste, como fazer algo diferente?
Notas Soltas
A conferêcia é o espaço onde a população pode falar diretamente com os gestores. Acho que isso reflete a idéia de que só o gestor poderia resolver. A participação anda mesmo meio esvaziada.
ACS como conselheira de saúde – muito bom!( ela falou sobre a terapia comunitária como questão)
Quem disso ama, disso cuida ( foucault) como pensar algo além da minha questão individual e mesmo, de que modos a questão individual possa ser usada para dizer mais. Nossa, a cada minuto, fico mais confuso sobre a questão da participação e a que se deve a ligação das pessoas com isso e de como a questão do umbigo pode ser ultrapassada.
26 de Junho - Apresentação de trabalho para a Turma de Mestrado
Sexta Feira, oito da manhã: apresentação de trabalho. Ganhei duas sugestões. A primeira é que eu deveria pensar um pouco mais no sentido da palavra comunitário no uso do meu trabalho. O outro ponto,bem eu não lembro, mas não deve ter sido tão importante assim. O guto apresentou o trabalho dele depois do meu. Eu estava preocupado com uma eventual repetição dos nosso temas mas o meu foco está na possibilidade de uma atuação em uma dada perspectiva, sendo favorecida ou dificultada por alguns aspectos e tudo mais. Já o Guto, tenta ver o lado da biopolítica e do biopoder colocado neste movimento. Acho que temos muito a nos ajudar em nosso trabalhos. O guto tem uma sensibilidade bem diferente da minha. Parece que ele ainda não foi tomado por tanta teoria, explicações e modelos. Acho que isso me endurece, fortalece? Talvez. Mas penso que esta é uma das diferenças entre nós.
18 de Junho - Grupo Focal
Nao atentei para escrever neste dia, usarei as anotações das pessoas e faço um post, logo em seguida, com as coisas que mais me marcaram
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PESQUISA SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA - PPSUS
1º Grupo Focal – Dia 18.06.2010
Rodada de apresentações:
Equipe pesquisadores: Simone, André, Guto, Jaqueline, Pedr8o, Bruna.
ACSs - Tempo de trabalho
01 – 8 anos
02 – 14 anos
03 – 6 anos
04 – 9 anos
05 – 8 anos
06 – 4 anos
07 – 2 anos
08 – 8 anos
09 - 8 anos
10 – 5 anos
11 – 8 anos
12 – 8 anos
13 – 4,5 anos
14 – 8 anos
15
16
17
18
19
OS números substituem os nomes e a informação em seguida, refere-se ao tempo de trabalho como ACS.
Apresentação da Pesquisa: Breve Histórico a partir dos casadinhos + Pró-Saúde, Objetivo e programação da atual pesquisa, TCLE, gravação.
Todos consentem, contam que foram convidados para “curso” e , ao afirmarem suas disposições de participarem já entram no assunto mesmo antes de iniciarmos as apresentações.
- Precisamos mesmo falar disso, pq toda hora tão nos pedindo ajuda e a gente não sabe o que fazer.
- Com essa coisa do crack, tem sempre alguém dizendo que quer tratamento e a gente fica sem saber o que dizer, só enrolando...
Principais Tópicos Abordados:
à uso de drogas: crack
Associação mais imediata com saúde mental no trabalho deles vem é com uso de drogas e
álcool.Percebem uma mudança na demanda de trabalho com ACSs: antigamente, pedreiros’ não procuravam ajuda, agora vêm direto prá gente dizem que querem largar a pedra, que sabem que está fazendo mal, mas ficamos de mãos atadas. Sabemos que mesmo que se consiga vaga em fazenda ou hospital – que já é difícil – daqui a pouco eles tão na área de novo vendendo até a mãe prá comprar pedra.
Contam vários episódios relacionados a crackeiros que chegam até eles pedindo ajuda.
Menina de 16 anos grávida do 2º filho que anda com nenê dependurado fumando; Guri que ficou 22 dias pelo convênio numa fazenda e 2 dias depois que tinha voltado já
tava fissurado...
- agentes se sentem pressionados(?), por viverem na comunidade. [não lembro como
apareceu da 1ª vez, mas a idéia que fiquei não foi de pressão por morarem ali, mas de
pressão por não terem como encaminhar o problema – tem que ver melhor como isso ficou
prá vcs]
Quando viciados chegam a pedir ajuda já estão no limite, já tem muita gente sofrendo e eles sabem que agora eles pedem, daqui a pouco já estão ali na boca arrumando mais pedra prá
- no PSF, diz que vai ajudar, mas quando os técnicos não podem fazer mais nada, os
agentes ficam “entre a cruz e a espada”, porque eles têm que ‘se dar’ com todo mundo,
ficando no meio dos conflitos. E ainda tem o medo, pq o traficante mora em frente, também não querem que a gente tire clientes deles...
-acham que há jeitos e jeitos de falar ‘não’ para os usuários: episódio da crackeira que chegou gritando no posto pedindo ajuda e enfermeira só disse que não tinha nada a fazer. A moça quebrou o vidro da UBS e durante reunião de equipe ameaçava cortar os pulsos em frente a todos se não fosse atendida. Vários ACSs comentam que pode até ser verdade que não tem prá onde encaminhar, mas ela deveria ter posto a moça prá dentro e ao menos tentado conversar e dizer alguma coisa, não só um ‘não’!
- há problemas nos encaminhamentos, as coisas ficam sem solução. Se cair na central
de marcação pode esquecer, achei uma ficha de referenciamento prá psiquiatra que está
esperando há 8 anos!
à Carência de Rede:
As parcerias inicias (quando da criação do PSF) são todas negativadas agora, a estrutura não é dada, e eles não têm pra onde encaminhar
- quem sofre é quem está à frente da coisa, que são eles
- ilusão de que ia resolver o problema da comunidade, quando entrou no PSF – que ia ter psicólogo pra todo mundo, estrutura. Falavam em rede, mas ele procurou e não encontrou a tal rede.
- demora no sistema : não existe parceria
- “na minha comunidade a metade é drogado, os outros são louco, e os outros tão ficando louco...”
- “De onde a gente tira estrutura pra lidar com esse povo? Porque a gente vive enganando o povo”. Somos enroladores: obrigados a dizer que as coisas vão se resolver, que vai conseguir marcar consulta que sabem que vão apodrecer na fila aguardando. Contam o caso de um PSF com referenciamento de 8 anos atrás, pra psiquiatria! Ninguém se espanta, ao contrário, emendam vários casos semelhantes!
- Os usuários dizem: “eu sei que tu tem boa intenção, mas tu não resolve nada”. Sentem-se desautorizados, as vezes ridicularizados na própria comunidade;
-no caso do uso de crack, toda a família sofre, e não tem suporte pra eles, e eles buscam suporte no PSF, e nos agentes mesmo
- “aqui vocês ouviram um caso de cada área, imagina o que tem por trás...”
- Excesso de demanda à Relações dos ACSs com suas UBSs e equipes
- quando identificam algum caso de alguém que quer se tratar (crack), levam até o posto, e até passa na frente de outros atendimentos, “pra segurar”, mesmo achando que não vá funcionar.
- Nosso papel é fazer a ponte entre a comunidade e o posto, mas a gente acaba fazendo
muito mais que isso, pq dentro da unidade eles sabem muito pouco do que é a vida mesmo das pessoas.
- Quando chegam no posto limpinhos, falando manso, tratando o filho de ‘meu amor’...
as vezes a gente até passa por mentiroso, porque não viram eles lá no meio deles, como a gente vê, no meio da sujeira, dando pau nas crianças
- Não é tão fácil dentro da unidade, isso desilude.
- Se a gente não conta pro médico como é que aquela pessoa vive de fato, como é que trata a família , eles não têm condição de entender o caso como é mesmo, como tratar aquela
pessoa que diz uma coisa pro médico e faz outra bem diferente em casa. Mas a gente sabe,
mora lá, ta vendo como eles são.
- O agente sabe coisas que não chegam lá dentro do posto. Eles dizem isso prá gente:
vou contar só prá ti, mas não diz lá pro médico que continuo fumando, bebendo. Tem
muita coisa que a gente sabe e se não levamos isso prá unidade não vão saber nunca.
- O brabo é que dentro mesmo da unidade ninguém valoriza nosso trabalho. Tudo bem que
a gente não é técnico, mas tem coisas que sabemos que outros não tem como saber, e isso
ninguém vê.
- Falei pro médico outro dia que a paciente não ia fazer o que ele dizia, contei tudo
que eu conhecia dela em casa e ele me disse: É, mas isso eu não tenho como saber!
- Caso das agentes que “foram pra cima”, brigaram com a equipe, pelos pacientes (? É o
caso do médico demitido?) para tirarem um médico que se recusava a fazer VD, juntamos
a comunidade e viemos aqui na gerente dizer o que ele fazia, que ninguém gostava do jetio
que atendia e ele foi trocado.
-“acham que a gente faz pouco e ganha muito”
- A comunidade é que nos reconhece – retorno imediato da comunidade: “a gente trabalha
24 horas, não 8 horas”
- “As vezes os pacientes contam pra gente coisas que não contam pro médico”
- pacientes não confiam em alguns médicos como nos agentes – eles vivem ali, têm vidas
parecidas, problemas parecidos
à Produção de Saúde/Doença e as Estratégias de Defesa dos ACSs
- agentes se expõem a muitas coisas, tuberculose, “fumam” pedra junto, “paredão” junto
–chegam na unidade, não são ouvidos, porque os técnicos não têm mais horário, ou porque não viram o paciente;
-“a gente (agente) também adoece, também passa por problemas”.
- Uma agente conta seu próprio caso em que foi deixada pelo marido, tinha um filho
drogado e outro que controlava ele, mas pouco depois este morreu num acidente de carro e o viciado largou as drogas. Ela contou muito com apoio da comunidade e sentou-se valorizada, pois no velório do filho todos foram, incluindo pessoas que ela não conhecia, mas que foram dar seu apoio por saberem do trabalho dela.
- “Quem cuida do cuidador?”
- “Agente cuida de agente”.
-“entra médico, sai médico, mas a gente se ajuda”
- “um é suporte do outro, é uma troca de experiências, eu me sinto realizada na profissão, mas também muito triste, porque não é reconhecido. A equipe acha que agentes não são nada, porque não são técnicos”
- “a gente acaba fazendo avaliações”
- não fazem diagnóstico, mas tem uma sensibilidade diferente, por conhecerem as famílias
- “ o que a gente não sabe, vai pra internet, vai pro livro, e estuda”.
- “tem muita coisa que não é nossa função, não temos capacitação pra isso”
-“a gente tem que saber o que que a gente tem que fazer pra ajudar”
- “ a melhor maneira da gente tratar eles é ouvir, porque eles querem falar, desabafar”.
Como isso aqui que a gente fez hoje, desabafou, falou dos nossos problemas. Na unidade não tem tempo prá isso.
-“prometer, já não prometo mais nada”
- “ a gente só não dá consulta mesmo”. E olhe lá! Já tem uns casos que dou uns conselhos que já sei como é que vão dizer no posto (risos)
- Caso da adolescente que queria anti-concepção prá transar com namorado e não
conseguiu consulta no PAM, mas agente roubou a cartela de pílulas e ensinou como
fazer (agente conta que a menina tinha a idade que ela própria tinha quando engravidou!)
à Demanda de capacitação
- querem capacitação sobre sintomas, o que o paciente apresenta quando entra num surto psicótico, ou de depressão leve, ou profunda. Como saber quando é só uma pessoa triste e quando pode ser um suicida?
- querem aprender a conhecer melhor o paciente
- Ética: às vezes, sabem coisas que nem outros familiares sabem, e que o paciente demora muito tempo ou nem conta na unidade.
- tem coisas que os agentes contam pra equipe, tem coisas que não contam.
- Agente também tem ética, não é só médico (rindo).
- mas como denunciar em alguns casos? Conhecem todos os envolvidos, moram no mesmo
lugar, ficam numa situação de vulnerabilidade
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PESQUISA SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA - PPSUS
1º Grupo Focal – Dia 18.06.2010
Rodada de apresentações:
Equipe pesquisadores: Simone, André, Guto, Jaqueline, Pedr8o, Bruna.
ACSs - Tempo de trabalho
01 – 8 anos
02 – 14 anos
03 – 6 anos
04 – 9 anos
05 – 8 anos
06 – 4 anos
07 – 2 anos
08 – 8 anos
09 - 8 anos
10 – 5 anos
11 – 8 anos
12 – 8 anos
13 – 4,5 anos
14 – 8 anos
15
16
17
18
19
OS números substituem os nomes e a informação em seguida, refere-se ao tempo de trabalho como ACS.
Apresentação da Pesquisa: Breve Histórico a partir dos casadinhos + Pró-Saúde, Objetivo e programação da atual pesquisa, TCLE, gravação.
Todos consentem, contam que foram convidados para “curso” e , ao afirmarem suas disposições de participarem já entram no assunto mesmo antes de iniciarmos as apresentações.
- Precisamos mesmo falar disso, pq toda hora tão nos pedindo ajuda e a gente não sabe o que fazer.
- Com essa coisa do crack, tem sempre alguém dizendo que quer tratamento e a gente fica sem saber o que dizer, só enrolando...
Principais Tópicos Abordados:
à uso de drogas: crack
Associação mais imediata com saúde mental no trabalho deles vem é com uso de drogas e
álcool.Percebem uma mudança na demanda de trabalho com ACSs: antigamente, pedreiros’ não procuravam ajuda, agora vêm direto prá gente dizem que querem largar a pedra, que sabem que está fazendo mal, mas ficamos de mãos atadas. Sabemos que mesmo que se consiga vaga em fazenda ou hospital – que já é difícil – daqui a pouco eles tão na área de novo vendendo até a mãe prá comprar pedra.
Contam vários episódios relacionados a crackeiros que chegam até eles pedindo ajuda.
Menina de 16 anos grávida do 2º filho que anda com nenê dependurado fumando; Guri que ficou 22 dias pelo convênio numa fazenda e 2 dias depois que tinha voltado já
tava fissurado...
- agentes se sentem pressionados(?), por viverem na comunidade. [não lembro como
apareceu da 1ª vez, mas a idéia que fiquei não foi de pressão por morarem ali, mas de
pressão por não terem como encaminhar o problema – tem que ver melhor como isso ficou
prá vcs]
Quando viciados chegam a pedir ajuda já estão no limite, já tem muita gente sofrendo e eles sabem que agora eles pedem, daqui a pouco já estão ali na boca arrumando mais pedra prá
- no PSF, diz que vai ajudar, mas quando os técnicos não podem fazer mais nada, os
agentes ficam “entre a cruz e a espada”, porque eles têm que ‘se dar’ com todo mundo,
ficando no meio dos conflitos. E ainda tem o medo, pq o traficante mora em frente, também não querem que a gente tire clientes deles...
-acham que há jeitos e jeitos de falar ‘não’ para os usuários: episódio da crackeira que chegou gritando no posto pedindo ajuda e enfermeira só disse que não tinha nada a fazer. A moça quebrou o vidro da UBS e durante reunião de equipe ameaçava cortar os pulsos em frente a todos se não fosse atendida. Vários ACSs comentam que pode até ser verdade que não tem prá onde encaminhar, mas ela deveria ter posto a moça prá dentro e ao menos tentado conversar e dizer alguma coisa, não só um ‘não’!
- há problemas nos encaminhamentos, as coisas ficam sem solução. Se cair na central
de marcação pode esquecer, achei uma ficha de referenciamento prá psiquiatra que está
esperando há 8 anos!
à Carência de Rede:
As parcerias inicias (quando da criação do PSF) são todas negativadas agora, a estrutura não é dada, e eles não têm pra onde encaminhar
- quem sofre é quem está à frente da coisa, que são eles
- ilusão de que ia resolver o problema da comunidade, quando entrou no PSF – que ia ter psicólogo pra todo mundo, estrutura. Falavam em rede, mas ele procurou e não encontrou a tal rede.
- demora no sistema : não existe parceria
- “na minha comunidade a metade é drogado, os outros são louco, e os outros tão ficando louco...”
- “De onde a gente tira estrutura pra lidar com esse povo? Porque a gente vive enganando o povo”. Somos enroladores: obrigados a dizer que as coisas vão se resolver, que vai conseguir marcar consulta que sabem que vão apodrecer na fila aguardando. Contam o caso de um PSF com referenciamento de 8 anos atrás, pra psiquiatria! Ninguém se espanta, ao contrário, emendam vários casos semelhantes!
- Os usuários dizem: “eu sei que tu tem boa intenção, mas tu não resolve nada”. Sentem-se desautorizados, as vezes ridicularizados na própria comunidade;
-no caso do uso de crack, toda a família sofre, e não tem suporte pra eles, e eles buscam suporte no PSF, e nos agentes mesmo
- “aqui vocês ouviram um caso de cada área, imagina o que tem por trás...”
- Excesso de demanda à Relações dos ACSs com suas UBSs e equipes
- quando identificam algum caso de alguém que quer se tratar (crack), levam até o posto, e até passa na frente de outros atendimentos, “pra segurar”, mesmo achando que não vá funcionar.
- Nosso papel é fazer a ponte entre a comunidade e o posto, mas a gente acaba fazendo
muito mais que isso, pq dentro da unidade eles sabem muito pouco do que é a vida mesmo das pessoas.
- Quando chegam no posto limpinhos, falando manso, tratando o filho de ‘meu amor’...
as vezes a gente até passa por mentiroso, porque não viram eles lá no meio deles, como a gente vê, no meio da sujeira, dando pau nas crianças
- Não é tão fácil dentro da unidade, isso desilude.
- Se a gente não conta pro médico como é que aquela pessoa vive de fato, como é que trata a família , eles não têm condição de entender o caso como é mesmo, como tratar aquela
pessoa que diz uma coisa pro médico e faz outra bem diferente em casa. Mas a gente sabe,
mora lá, ta vendo como eles são.
- O agente sabe coisas que não chegam lá dentro do posto. Eles dizem isso prá gente:
vou contar só prá ti, mas não diz lá pro médico que continuo fumando, bebendo. Tem
muita coisa que a gente sabe e se não levamos isso prá unidade não vão saber nunca.
- O brabo é que dentro mesmo da unidade ninguém valoriza nosso trabalho. Tudo bem que
a gente não é técnico, mas tem coisas que sabemos que outros não tem como saber, e isso
ninguém vê.
- Falei pro médico outro dia que a paciente não ia fazer o que ele dizia, contei tudo
que eu conhecia dela em casa e ele me disse: É, mas isso eu não tenho como saber!
- Caso das agentes que “foram pra cima”, brigaram com a equipe, pelos pacientes (? É o
caso do médico demitido?) para tirarem um médico que se recusava a fazer VD, juntamos
a comunidade e viemos aqui na gerente dizer o que ele fazia, que ninguém gostava do jetio
que atendia e ele foi trocado.
-“acham que a gente faz pouco e ganha muito”
- A comunidade é que nos reconhece – retorno imediato da comunidade: “a gente trabalha
24 horas, não 8 horas”
- “As vezes os pacientes contam pra gente coisas que não contam pro médico”
- pacientes não confiam em alguns médicos como nos agentes – eles vivem ali, têm vidas
parecidas, problemas parecidos
à Produção de Saúde/Doença e as Estratégias de Defesa dos ACSs
- agentes se expõem a muitas coisas, tuberculose, “fumam” pedra junto, “paredão” junto
–chegam na unidade, não são ouvidos, porque os técnicos não têm mais horário, ou porque não viram o paciente;
-“a gente (agente) também adoece, também passa por problemas”.
- Uma agente conta seu próprio caso em que foi deixada pelo marido, tinha um filho
drogado e outro que controlava ele, mas pouco depois este morreu num acidente de carro e o viciado largou as drogas. Ela contou muito com apoio da comunidade e sentou-se valorizada, pois no velório do filho todos foram, incluindo pessoas que ela não conhecia, mas que foram dar seu apoio por saberem do trabalho dela.
- “Quem cuida do cuidador?”
- “Agente cuida de agente”.
-“entra médico, sai médico, mas a gente se ajuda”
- “um é suporte do outro, é uma troca de experiências, eu me sinto realizada na profissão, mas também muito triste, porque não é reconhecido. A equipe acha que agentes não são nada, porque não são técnicos”
- “a gente acaba fazendo avaliações”
- não fazem diagnóstico, mas tem uma sensibilidade diferente, por conhecerem as famílias
- “ o que a gente não sabe, vai pra internet, vai pro livro, e estuda”.
- “tem muita coisa que não é nossa função, não temos capacitação pra isso”
-“a gente tem que saber o que que a gente tem que fazer pra ajudar”
- “ a melhor maneira da gente tratar eles é ouvir, porque eles querem falar, desabafar”.
Como isso aqui que a gente fez hoje, desabafou, falou dos nossos problemas. Na unidade não tem tempo prá isso.
-“prometer, já não prometo mais nada”
- “ a gente só não dá consulta mesmo”. E olhe lá! Já tem uns casos que dou uns conselhos que já sei como é que vão dizer no posto (risos)
- Caso da adolescente que queria anti-concepção prá transar com namorado e não
conseguiu consulta no PAM, mas agente roubou a cartela de pílulas e ensinou como
fazer (agente conta que a menina tinha a idade que ela própria tinha quando engravidou!)
à Demanda de capacitação
- querem capacitação sobre sintomas, o que o paciente apresenta quando entra num surto psicótico, ou de depressão leve, ou profunda. Como saber quando é só uma pessoa triste e quando pode ser um suicida?
- querem aprender a conhecer melhor o paciente
- Ética: às vezes, sabem coisas que nem outros familiares sabem, e que o paciente demora muito tempo ou nem conta na unidade.
- tem coisas que os agentes contam pra equipe, tem coisas que não contam.
- Agente também tem ética, não é só médico (rindo).
- mas como denunciar em alguns casos? Conhecem todos os envolvidos, moram no mesmo
lugar, ficam numa situação de vulnerabilidade
08 de Junho - Reunião com a equipe
08 de Junho – Reunião com a Equipe
Fomos ao posto de saúde encontrar as pessoas. Foi bem legal. Os alunos PET estão bem dedicados ao projeto ( Rodrigo, digão, rocks). O especialismo é uma questão muito forte em uma determinada preceptora. Isso há de ser um ponto bem difícil de lidar. Na hora eu já me coloquei meio que em posição especular a dela e rebati – ainda que com leveza – a questão dela. Para além do meu ranço em relação a o que ela dizia, tem um ponto importante aí. A questão da falta de um código de ética no trabalho é uma problema sério a ser enfrentado. A senhora que pedia por isso, queria um código moral, um livro de pode e não pode. A ideia dela é uma droga, mas pode ser transvalorada em algo interessante. Vou pensar em um jeito de incluir uma discussão da formulação de um código de ética dos ACS, pensados por eles e que sirva de guia para o trabalho deles. Quem sabe usando o modelo conferência – divisão por grupo agrupados por temas – trabalho coordenado dos temas para a construção de propostas e uma plenária final onde pudêssemos aprovar isso. Acho que a idéia está mais adequada agora.
Fomos ao posto de saúde encontrar as pessoas. Foi bem legal. Os alunos PET estão bem dedicados ao projeto ( Rodrigo, digão, rocks). O especialismo é uma questão muito forte em uma determinada preceptora. Isso há de ser um ponto bem difícil de lidar. Na hora eu já me coloquei meio que em posição especular a dela e rebati – ainda que com leveza – a questão dela. Para além do meu ranço em relação a o que ela dizia, tem um ponto importante aí. A questão da falta de um código de ética no trabalho é uma problema sério a ser enfrentado. A senhora que pedia por isso, queria um código moral, um livro de pode e não pode. A ideia dela é uma droga, mas pode ser transvalorada em algo interessante. Vou pensar em um jeito de incluir uma discussão da formulação de um código de ética dos ACS, pensados por eles e que sirva de guia para o trabalho deles. Quem sabe usando o modelo conferência – divisão por grupo agrupados por temas – trabalho coordenado dos temas para a construção de propostas e uma plenária final onde pudêssemos aprovar isso. Acho que a idéia está mais adequada agora.
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