segunda-feira, 6 de julho de 2015

Foucault é meu autor de auto ajuda.

Entre os anos 1945 e 1965 (penso na Europa), havia certa maneira correta de pensar, certo estilo de discurso político, certa ética do intelectual. Era preciso ser íntimo de Marx, não deixar os sonhos vagarem longe demais de Freud, e tratar os sistemas de signos — o significante — com o maior respeito. Tais eram as três condições que tornavam aceitável esta singular ocupação que consiste em escrever e enunciar uma parte de verdade sobre si mesmo e sua época.   - O ANTI-ÉDIPO: UMA INTRODUÇÃO À VIDA NÃO FASCISTA∗ Michel Foucault

Em um texto curto, direto e de uma clareza invejável, Foucault apresenta o Anti Édipo, descrevendo o livro como um guia para uma vida não fascista. Quando reli este pedaço, e as diretrizes da ética da vida não fascista defendida no Anti Épido, acho que pude continuar localizando meus incômodos com a forma como a lógica militante se presentifica nos discursos de muitos formadores de opinião em Saúde. Sanitaristas clássicos, autores consagrados das esquerda política, baluartes da medicina social, novos acadêmicos em busca de bolsas de produtividade CAPES, gestores públicos engajados, trabalhadores comprometimentos, usuários em espaços de controle social, enfim, toda uma gama de pessoas, “se acreditando um militante revolucionário” sai agindo como fascistas, fascistas fascinados pelo “poder, essa coisa mesma que nos domina e explora”.O curioso é uma certa incapacidade de duvidar de si. 
São pessoas muito engajadas na causa de promover o bem alheio. Já sabem o que é preciso fazer e aonde se deve chegar para conseguir o bem de todos e a superação dos problemas. Os ideias foram traçados no final dos anos oitenta do século passado, por parte deles  -  na época jovens e cheios de força. Enfim, ousar duvidar desta cartilha pode ter consequência de ser tomado como um não par. Alguém que é contra e que se vendeu aos discursos neo liberais do capitalismo mundial integrado. 
Quando penso conceitualmente nessas coisas, tenho acreditado que

1 – O movimento sanitário hoje tem bandeiras ressentidas, no sentido mais  Nietzschiano do termo. Afinal, talvez ser anti algo, passa por reconhecer-se fraco, frente a potencia daquilo ao qual nos opomos;
2 – Como consequência da posição ressentida,  produz um discurso polarizado em termos de A e -A. Assim sendo, qualquer colocação em termos de dúvida, é vista como adesão a outra polaridade. Neste sentido, toda e qualquer possibilidades de pensamento fica vetada.  A coisa fica grenalizada, impossível de avançar, tão radical quanto a passagem bíblica do apocalipse na qual o anjo diz “ Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. (...) Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te.” 
3 – Ao que parece o movimento é sobreimplicado de tal forma que não consegue perceber que aquilo que está defendendo, é parte do responsável pelo insucesso da ação. 

Enfim. Preciso ir aprendendo a falar disso, a sustentar isso, pois, como tenho visto nas vezes em que exponho algumas dessas idéias no  Facebook, os ataques virão de todos os lados. 


Ps:
http://letraefilosofia.com.br/wp-content/uploads/2015/03/foucault-prefacio-a-vida-nao-facista.pdf

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