segunda-feira, 7 de março de 2016

Devir como alternativa a identidade - ou sobre como lidar com sexta passada



Saindo da representação, não caímos na armadilha da imitação e da analogia. Não se trata de uma imitação, porque não há modelos, não fazemos tal qual uma criança, não queremos voltar à pré-escola, não colocamos vestidos e passamos batom para entrar em um devir-mulher, não uivamos para entrar em um devir-animal, não quebramos vidraças para entrar em um devir-revolucionário. A imitação é um fracasso. Ela pode servir para, em um primeiro momento, entrar em uma zona de vizinhança, mas devir não é seguir um modelo, é uma relação real para além de toda correspondência, sem semelhança, nem homologia. Comprar uma máquina de escrever e sentar no Starbucks não é entrar em devir-escrito.
É preciso começar a se pensar em uma ética dos devires que ponha fim à moral do ressentimento. Estamos em uma luta constante para superar o niilismo e não cair nos buracos subjetivos que são verdadeiras máquinas de ressentimento. Um devir nunca se conclui ou se concretiza, ele é um processo de agenciamento do desejo, um modo de vida que se conduz pelas intensidades. Ele também não é unitário, são coletividades moleculares, composições ativas! Queremos criar mapas de intensidade: “Sempre se tem de partir de alguma coisa, ou seja, sempre se tem que dispor de uma cartografia mínima” (Guattari & Rolnik, Micropolítica). Todo devir é um rizoma, uma abertura, uma conexão. Buscar uma ética dos devires é mover-se pelos terrenos de uma ética do menor, mais solta, que resiste frente aos padrões molares. Estabelecer novas alianças, não filiativas. Nem reprodução, nem assimilação: o devir é uma transvaloração.

http://razaoinadequada.com/filosofos-essenciais/deleuze/etica-dos-devires/ 

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